Capítulos (1 de 19) 10 May, 2020

Capítulo 9: SACIS! TEM SACI POR TODOS OS LADOS!

- Synth seu desgraçado – Vociferou Joelsun, segurando seu martelo. – Eu disse para tomar cuidado com o meu martelo, veja há uma pequena rachadura na lâmina da parte de trás.

- Relaxa meu amigo verdinho, um risquinho como esse não vai afetar a sua lâmina em nada e além do mais você ainda tem uma katana pra usar.

- NÃO! Eu prometi a mim mesmo que só usaria essa katana para ceifar a vida da fênix maldita, que matou o meu clã.

- Uma fênix? – Indagou Leopoldo, surpreso.

- Na verdade, um homem que se transforma em fênix – Disse Synth.

- Akhalli, o espirito flamejante – Completou Joel. – O líder do clã de assassinos que dizimou o meu clã a mando do rei Georgy e o responsável direto pela morte do meu pai e do meu avô.

O sapinho aperta o cabo do martelo - A primeira vida que minha lâmina demoníaca levará para o inferno será a dele, mesmo que eu tenha de ir junto.

Synth e Leopoldo se assustaram com o olhar sanguinário de Joelsun, até então o sapinho se mostrava tão calmo e silêncio.

- Guardar tanto rancor no coração não traz nada de bom - Disse Synth. – Eu também perdi pessoas que amava bastante, por isso sei que não é fácil abandonar o desejo de vingança, mas você precisa fazer isso, se não quando você finalmente encontrar a fênix seu coração será consumido totalmente pelo rancor.

- Pra você é fácil falar Synth – Disse Joel, enfurecido. – Perdeu seus amigos, mas ainda tinha sua família para ajuda -ló a superar tudo EU PERDI TUDO! MINHA FAMILIA! MEUS AMIGOS... Meu lar, tudo foi tirado de mim, não havia ninguém para me dar um abraço e dizer que tudo ficaria bem.

- Como você pode dizer que o meu sofrimento é menor que o seu? – Disse o aventureiro, extremamente ofendido.

– Essa discussão é sem sentido – Interviu Leopoldo. - O sofrimento não é algo pra ser medido ou comparado, mas sim superado.

- Galera – O esqueleto coloca a mão no ombro de cada um. - A gente já comeu, dormiu e até tomamos banho juntos, coisas que só verdadeiros bffs fazem, por isso não vamos brigar por causa da rachadura em um martelo.

Leopoldo então abraço os dois, Synth e Joel se encaram e acabam por sorriso um para o outro.

- Me desculpe, Synth – Disse o sapinho, envergonhado. – Eu não deveria ter menosprezado o seu sofrimento.

- Tudo bem, toda essa discussão começou por minha causa, eu é quem deveria estar se desculpando.

- Não, não precisa.

- Já sei, depois que salvarmos o deserto desse faraó maluco, eu prometo comprar um pote de moscas fresquinhas pra você.

- Ohh! As pessoas costumam dizer ‘’ Não, não precisa’’ nesses momentos, mas moscas Ahhhhh! Moscas são deliciosas demais para eu recusar.

- Yeah! Agora que tudo foi resolvido bora bater um rango, a lutar contra aquela coruja me deixou só o osso.

Já estava ficando tarde quando terminamos de comer, o sol sorridente tinha acabado de se recolher dando espaço para a lua estilosa ascender aos céus, decidimos então montar acampamento e passar a noite ali mesmo, a beira do oásis. Uma dúvida cruel que todo aventureiro tem no acampamento noturno é sobre o que é melhor, ficar de vigia primeiro ou por último? Eu particularmente prefiro vigiar primeiro pois quando meu turno acabar, vou poder dormir tranquilamente pelo resto da noite sem que ninguém me acorde, por mais que o último a vigiar já tenha descansado bastante até chegar o seu turno, ele ainda vai ser incomodado pelo segundo.

O problema de ficar de sentinela sozinho é que eu pego no sono rápido sem ter com quem conversar e dessa vez não foi diferente, meus olhos logo começaram piscar sem parar, cada vez ficava mais difícil de manter a cabeça erguida vigiando, toda hora ela despencava pra baixo. Eu teria pegado no sono se não fosse pelas risadas e gritos macabros que ecoaram pelo deserto até chegarem aos meus ouvidos, rapidamente apaguei a fogueira e, com a Darkwave em mãos, me preparei para receber seja lá o que estivesse vindo na minha direção.

Tratava-se de um grupo de ‘’Demónios da areia’’ ou como são mais conhecidas pelo povo do deserto ‘’ Sacis’’. O saci é homem de pele negra cujo o corpo é repleto de símbolos arcanos antigos, eles possuem apenas uma perna, mas engana-se você se pensa que essa deficiência os torna menos perigosos, pois os sacis são capazes de criar um redemoinho feito do céu estrelado para se locomover mais depressa. Essa criatura rodopia por aí usando apenas um gorro vermelho, em sua boca há sempre um longo cachimbo cravejado de runas antigas acesso.

Os sacis são seres malditos, que só pensam em fazer maldades com os outros, se os sacis encontrarem um pobre viajante que se perdeu no deserto e agora vaga a procura de água, eles enchem as mãos de areia e fazem uma ilusão para que o viajante pense que à areia é água, o viajante desesperado começa a comer à areia até morrer.

Durante um bom tempo o grupo ficou parado, olhando na minha direção, com os seus olhos brancos como a lua cheia. Felizmente eles apenas olharam e foram embora, pois caso eles permanecessem mais um minuto naquele local teriam acabado nós descoberto, já que do nada Leopoldo acordou suando frio e gritando.

- O que foi Leopoldo? – Perguntei, assustado.

- Já é a minha vez? – Disse Joel ainda sonolento.

- Eu- eu tive um pesadelo horrível – Respondeu o esqueleto, tremendo.

- Acalma-se e nós conte o que você viu.

Peguei uma garrafa de leite na mochila e dei para Leopoldo, ele bebeu e se acalmou um pouco.

- É o mesmo pesadelo de sempre, onde eu vejo um homem velho usando uma adaga igual a minha, para esfaquear a criança de uma coração, depois ele joga o esqueleto da criança no chão e lambe a lâmina ensanguentada.

- Que horror! – Disse Joel, assustado.

- Você disse que já teve esse pesadelo outras vezes, ele sempre acontece da mesma forma?

- Sim, a única coisa que muda é a criança, as vezes é um menino outras vezes uma menina, mas a pior de todos é...

- O que Leopoldo, me diga por favor.

- Tenha calma Synth, deixe o Leopoldo se recuperar, lembrar de coisas horríveis como essas não deve ser nada fácil.

- Eu tenho noção disso, Joel, mas eu preciso saber de todos os detalhes possíveis desse pesadelo.

- E para qual proposito?

- Para descobrir o que ele significa, alguns sonhos podem ter significados ocultos dentro deles ou pode significar nada, mas isso só vamos descobrir depois de saber toda a história.

Leopoldo segura a garrafa de leite, tremendo, o aventureiro coloca sua mão sobre a dele e o esqueleto para de tremer.

- ... As vezes eu vejo o homem velho matando um bebê, esse, esse é o pior de todos, vê aquele pobre bebê sendo apunhalado no peito dói muito dentro de mim, é como se o meu próprio coração fosse apunhalado e toda minha carne fosse sugada pelo homem.

Joel e Synth ficaram completamente perturbados ao ouvir sobre o sonho do esqueleto.

- Eu não sei se esse sonho pode significar algo além de agonia, Synth.

- Bem, a repetição do mesmo sonho pode acabar não sendo um sonho, mas sim uma lembrança terrível ou algum trauma passado, você disse que o homem velho usava uma adaga igual a sua, será que na verdade não era ela mesma?

- Isso é impossível, pois o deus anão, Digunus Dingo Digozo Gozo, cravou essa adaga na minha cabeça no momento em que eu nasci. Nenhuma outra pessoa já brandeou essa adaga além de mim.

- Mas... Por que ele faria isso? – Disse Joel, confuso.

- Bem, meus pais disseram que é porque ele acreditava que algum dia eu iria me torna um grande ferreiro e essa adaga iria me ajudar a construir coisas incríveis. He! Ele só não contava que eu iria usar essa adaga para matar monstros ao invés de forjar.

- Espere aí, quando nós conhecemos você disse que acordou com ela na cabeça e não sabia quem tinha colocado ela aí, você mentiu?

Leopoldo abaixa a cabeça envergonhado.

- A gente tinha acabado de se conhecer, achei que se você soubesse que essa adaga pertencia a um deus iria tentar rouba-la mesmo tendo prometido me ajudar, por isso mim fingir de sonso e inventei aquela história.

- Essa adaga é feita de ouro maciço, ela em si já seria motivo mais do que suficiente para eu querer rouba-la.

- Eu sei, mas há uma grande diferença entre uma adaga de ouro maciço e uma adaga de ouro maciço de um deus anão.

- Hmmm! Ele tem razão, é diferente – Disse Joel.

- Me desculpe, eu queria ter lhe contado a verdade depois, mas não encontrei a ocasião perfeita, me desculpe mesmo.

Synth coça a cabeça – Ahhh! Você é um mistério completo Leopoldo, me diga como você foi parar naquela masmorra?

- O Otacu me levou até ela.

- Otacu? Que nome engraçado – Disse Joel.

- É o irmão da Dora, a necromante que roubou o coração desse garanhão aqui – Disse Synth apontado para Leopoldo.

- Necromante é – Joel olha o esqueleto de cima pra baixo. - Isso faz bastante sentido.... ou não, eu ainda to com sono.

- O Otacu fez uma aposta comigo, se eu conseguisse derrotar o rei esqueleto e roubar seu tesouro, ele iria para de falar mal de mim pra Dora, pelo meu amor por ela eu aceitei o desafio, entrei na masmorra, encontrei o rei esqueleto e perdi. Entretanto, uma derrota não foi suficiente para me fazer desistir, comecei a vagar por aqueles corredores, enfrentado tudo que achava pela frente para me torna mais forte, até que nós encontramos.

- Eu não queria ter mentido pra você, mas a solidão me deixou paranoico, me desculpe Synth.

- Está tudo bem, você demonstrou várias vezes confiar em mim e eu em você, então não tem porque eu desconfiar da sua lealdade agora.

- Ohhh! Que fofo – Disse Joel sonolento e com os olhos semicerrados.

- Bem, já que eu acordei todo mundo, agora quem irá vigiar sou eu, pode ir dormir Synth.

- Tem certeza?

- Sim, depois de ter esses pesadelos horríveis eu não consigo mais pegar no sono, por isso pode ir dormir sossegado Joel, pois eu vou cobrir o seu turno também.

Joel boceja - O-obrigado Leopoldo – O sapinho caí no chão e começa a roncar.

- Tem certeza que tá tudo bem? Eu posso ficar acordado conversando com você.

- Não precisa se preocupar, eu estou acostumado com esses pesadelos horríveis, vou ficar bem, agora deita aí e vai tirar um cochilo.

- Ok então, boa noite.

- Boa.

Essa história da adaga tá parecendo aquelas histórias sem sentido que os adultos inventam para as crianças, como a garça que traz os bebes, o que uma garça tem a ver com bebes? Elas põem ovos e não amamentam, faria mais sentido uma vaca trazer os bebes, afinal elas parem, dão leite e ainda dão um ótimo churrasco no final.

Pra falar a verdade eu gostaria de acreditar nessa história do deus anão, mas infelizmente não consigo, os pais do Leopoldo inventaram toda essa história para esconder algo dele, mas o que seria? E qual será a verdadeira origem dessa adaga, será que ela pertencia ao homem velho do pesadelo?

Bom de uma coisa eu estou convencido, à adaga é a peça fundamental para entender o passado de Leopoldo, não sei em qual versão da história acreditar ou se alguma delas é realmente a verdadeira. Tenho muitas perguntas pra fazer, mas agora não é o momento certo para faze-las, preciso focar em ajudar minha filha primeiro, para só depois poder me aprofundar no mistério que envolve meu querido amigo esqueleto.

No outro dia, ao acorda vi Leopoldo e Joel tomando café da manhã.

- Oh! A bela adormecida finalmente acordou – Disse Leopoldo, bebendo leite.

- Blom dlia Syflinh – Disse Joel, com a boca cheia de moscas.

- Bom dia pessoal, está se sentido melhor Leopoldo?

O esqueleto rapidamente bebeu o resto da garrafa de leite e deu um joinha pra Synth.

- Sim, não a nada melhor do que passar à noite em claro pensando na vida.

- Haha! Fico feliz em ver que está animado, pois hoje vamos correr sem pausa até chegar na cidade do povo do deserto, estou louco para encontrar minha filhinha.

- Hum! – Joel engole todas as moscas de uma só vez e diz. – Era justamente sobre isso que eu queria falar com você, Synth. Não perguntei nada antes pois estávamos lutando, mas agora que estamos chegando perto da cidade eu preciso saber, o povo do deserto aceita a entrada de pessoas como eu e o Leopoldo na sua cidade?

- Ei! Como assim eu e você? Eu sou normal.

- O povo do deserto negoceia com humanos e seres mágicos portanto não se preocupe, ninguém irá te matar por ser quem é Joel. E mesmo que algum imbecil viesse a querer lhe fazer mal ou ao Leopoldo, eu seria o primeiro a quebra-lo na porrada.

Joel esboça um sorriso de satisfação e volta a comer suas moscas em paz.

- Como pode existir cidades que não aceitam seres mágicos? – Disse Leopoldo.

- Não só pode como existem – Disse Joel. – Essas cidades e eu estou falando dos dois lados aqui, vivem nas lembranças de um passado terrível, são pessoas e seres mágicos que sofreram bastante na guerra e agora não conseguem acreditar numa união global das raças como era antigamente.

- Lamentável – Disse Synth. – Mas, felizmente essas cidades são minoria e pouco a pouco os dois povos estão voltando a confiar um no outro, a nossa party é um perfeito exemplo disso.

Leopoldo levanta a garrafa de leite - Um viva para a equipe perfeita. – Synth e Joel brindam juntos com o esqueleto.

- Enfim, vamos comer logo campada, ainda há um bom caminho até chegarmos na cidade do povo do deserto.

Terminamos o café da manhã e seguimos a todo vapor correndo no túnel de vento. Ironicamente, a cidade do povo do deserto não parece um deserto, ela é uma cidade muito rica, bonita e viva, cheia de árvores e plantas dos mais variados tipos. Tudo isso é graças aos Cactui, uma raça de cactos humanoides capazes de pensar, andar, pular, roubar, matar, e se reproduzir, mas não de falar pois não possuem cordas vocais maduras como a nossa, felizmente eles conseguem se expressar através de gestos fofinhos e espinhosos.

O que torna essa raça tão importante é o seu poder de alterar o solo, eles podem transformar o deserto estéril numa região fértil para o plantio de qualquer semente, porém, para usar seus poderes eles necessitam de uma grande quantidade de esterco e é aqui entra o povo do deserto. Os dois povos vivem de forma harmoniosa, com o povo do deserto provendo esterco para os Cactuis continuarem fertilizando suas terras, além disso os Cactuis também são bastante usados como grandes reservatórios moveis de água pelos ‘’Vaqueiros do deserto’’.

- Vaqueiros? Aqui no deserto? – Disse Leopoldo.

- É eu sei, parece legal e realmente legal. Diferente dos vaqueiros do oeste que tomam conta do gado, estes daqui caçam tubarões, tubarões da areia. Montados em seus camelos, vestindo roupas grossas reforçadas com a carapaça de verme branco, usando lanças bem afiadas os bravos vaqueiros caçam os temidos tubarões da areia.

- Hm! Vladmir não iria gostar nem um pouco desse pessoal – Disse Joel, com um sorrisinho no rosto.

- A carne desse animal é muito apreciada por ogros e gigantes da montanha, eles pagam caro por um filé de tubarão, eu já comi uma vez e odiei.

- Sério, tem gosto de que? – Perguntou Leopoldo.

- De areia.

- Faz sentido.

- Será que vamos encontrar alguns desses animais durante nossa jornada?

- Acho muito difícil Joel, os vaqueiros caçaram boa parte dos tubarões da areia, raramente você encontra um nadando por aí. O jeito mais fácil hoje em dia de ver eles é indo numa fazenda que cria tubarões.

- E como se cria um bicho que vive na areia, no meio do deserto? – Indagou Leopoldo bastante curioso, por mais que sua cara não demonstrasse.

- Eu não faço a menor ideia, só sei que funciona.

Ao meio dia em ponto chegamos na cidade do povo do deserto e para o meu espanto a cidade estava um caos, pessoas feridas, camelos com o rabo pegando fogo, pessoas comendo areia, barracas de frutas destruídas. A cidade foi atacada por sacis na noite passada, provavelmente o mesmo grupo que passou por nós, felizmente alguém se encarregou de acabar com esses monstros e tudo que encontramos foram os seus cadáveres.

- Assustador – Disse Joel, vendo os cadáveres. – Todos morreram com uma flechada na cabeça e apenas na cabeça, vejam não há nenhuma flecha em qualquer outra parte do corpo, seja quem for que tenha feito isso, essa pessoa tem uma pontaria perfeita.

- Humhum! Mas não é pra menos, afinal estamos falando da minha filha.

- Foi sua filha quem fez isso?

De repente, à atenção dos aventureiros se voltou para o outro lado da rua de onde ecoava um grito horripilante, era um saci, que vinha em sua direção correndo e gritando desesperadamente. A criatura parecia estar assustada com alguma coisa, mas ao ver os aventureiros sua expressão mudou, pois ele via ali uma nova oportunidade para fazer maldades. O demônio da areia esboçou um sorriso maligno, seguido de uma gargalhada, ele se preparava para lançar um feitiço, quando uma flecha atravessou sua cabeça.

Mesmo com uma flecha na cabeça, o monstro deu alguns pulos pra frente, antes de cair no chão para sempre, quando o saci finalmente tombou os aventureiros puderam finalmente ver a responsável por todas aquelas mortes.

Tratava-se de uma garota de pele morena um pouco maior que Joel, com cabelo loiro curto e chifres em espiral. Na cintura ela carrega um crânio humano com dentes pretos. Em seu pulso ela tem equipada uma besta a qual ela usou para eliminar o saci.

Os olhos castanhos claros da arqueirinha brilharam ao ver Synth, ela abriu um imenso sorriso e correu na direção dele, dizendo.

- PAIZINHOOO!!!

Synth abraça sua filha e gira abraçado com ela – Hahahaha! Que saudade eu estava desse abraço apertado.

- Paizinho o senhor realmente veio.

- Mas é claro, que tipo de pai eu seria se deixa-se minha filhinha enfrentar um faraó malvadão sozinha. E eu também trouxe meus amigos para ajuda -lá.

- Amigos? – Taelin olha para Leopoldo e Joel, ambos sorriem e acenão pra ela.

- Estes são Leopoldo e Joelsun, meus queridos compa-

- O senhor montou uma nova equipe? – Disse Taelin, surpresa.

- Bem, eu não montei só calhou de eu conhecer esses caras legais.

- Estou tão feliz – Taelin corre e abraça Leopoldo e Joel. – Jamais imaginei ver meu papai fazendo parte de uma equipe novamente, muito, muito obrigada por estarem tomando conta do meu paizinho.

- Haha! Olha eu confesso pra você que é difícil carregar seu pai pelas dungeons de nível alto, ele é bem fraquinho.

- Rá!Rá! Até parece que eu sou o carregado aqui.

- Mas é, ou já se esqueceu da vez que te carreguei naquela ponte.

- Bem, naquela situação eu não queria molhar os pés e por isso pedi sua ajuda, mas só foi uma vez.

- Eu também te derrotei no x1, qual a desculpa agora?

- O QUE? Paizinho o senhor perdeu um duelo?

- Foi sorte.

- Talento.

- Foi sorte.

- Talento.

- SORTE!

- T A L E N T O! TALENTO!

- Hehe! Tudo bem papai – Disse Taelin, querendo amenizar a situação. - Todo mundo já perdeu uma vez na vida, isso não é motivo de vergonha pra ninguém. Perder faz parte do processo de evolu-

- Oh! Seu esqueleto maldito você sempre esfrega essa vitória na minha cara, mas naquele dia tu deu sorte.

- Que nada, tu que é fraco.

- Olha, eu juro que quando a gente termina aqui eu vou te chamar pro x1 e dessa vez eu vou lavar o chão com o seu crânio.

- Hehe! Eu estou ansioso por esse dia.

Taelin vira pra Joel – Esses dois são sempre assim?

- Não, de vez em quando eles dançam valsa juntos.

- Hahaha! Bem, depois vocês decidem quem é o mais forte, agora vamos para minha casa, vocês devem estar exaustos da viagem.

- Cansado não, mas faminto - Joel alisa a própria barriga. – Com certeza.

- Pois então farei uma deliciosa buchada para todos.

- Magnifico! Nem sei o que é isso, mas me parece ser delicioso.

- Hmmm! Uma buchadinha agora cai bem mesmo.

- Ainda bem que o senhor gostou da ideia, pois vai me ajudar a preparar tudo hum!

- Hehe! Será um prazer ajuda-la na cozinha como nos velhos tempos.

- Agradeço a oferta, mas eu ainda estou na dieta do leite, quero ficar monstrão.

- Mas você já tá um baita monstro, Leopoldo – Disse Taelin.

- Não, eu ainda sou um monstrinho, quero ficar monstrão de verdade – Respondeu o esqueleto, flexionando os ossos.

Enquanto caminhava Joel sente que pisou em algo, ele levantar o pé temendo ter pisado em um cocô de camelo, mas para sua surpresa tratava-se do cachimbo encantado do saci, intacto.

– Hum! Mas que cachimbo fascinante Sniff! Sniff! Ele emana um cheiro magico delicioso.

- É tabaco – Disse Leopoldo.

- Na verdade não Leopoldo – Disse Taelin. – Esse cheiro vem da mistura de raízes e folhas de várias árvores diferentes e uma pitada de magia negra. Dizem que aqueles que inalam a fumaça verde do cachimbo encantado do saci, conseguem sair de qualquer ilusão e podem ver com clareza os caminhos ocultos da floresta.

-Mas que droga de raiz é essa? Nem as mandrágoras dão uma brisa dessa – Disse o esqueleto.

- Hmmmm! – Joel coça o queixo, pensativo.

- Vá em enfrente, prove.

O sapinho coloca o cachimbo na boca o acende e dá uma tragada bem forte, a substancia mágica do cachimbo era tão forte que deixou o pobre sapinho estático olhado fixamente pro nada.

- Você está bem Joel? – Disse Taelin levemente preocupada.

- Coff! Coff! Coff! Isso Coff! Tem um forte gosto de magia, igual a cerveja da terra encantada Argh! É horrível. Mas... É um belo cachimbo para ser jogado fora, irei guarda-lo como recordação.

De repente, gritos de um vaqueiro louco ecoaram pelas ruas da cidade.

- Vocês ouviram isso também? – Indagou Joel, assustado.

Synth saca sua Darkwave – Sim, não se preocupe sapinho, você não tá chapadão não.

- Esses gritos foram pertos daqui – Disse Leopoldo. – Vamos ajudar esse maluco, ele deve estar lutando contra sacis.

Taelin era a única do grupo que não demonstrava preocupação alguma com o vaqueiro em perigo, pelo contrário ela parecia até um pouco relutante em ir ajudar o pobre infeliz, porém nada ela vez para impedir seu pai. Seguindo o som dos gritos, o grupo de Synth é levado até uma praça, onde no meio dela havia a estátua do lendário vaqueiro, Lança Branca, segurando sua imensa lança feita do dente do lendário Megalosand, o maior e mais mortal tubarão que já aterrorizou as areias do deserto.

A praça estava repleta de sacis, cerca de 25 demônios da areia atacavam ferozmente um único vaqueiro e o seu fiel cactui, mas mesmo em tamanha desvantagem a dupla lutava bravamente por suas vidas, o vaqueiro trucidava os sacis, com sua poderosa lança, enquanto o pequeno cactui dava suporte ao seu dono, atirando espinhos das pontas dos seus dedos como se fosse uma pistola, os espinhos paralisam os inimigos por alguns segundos tempo esse que é suficiente para que o vaqueiro os empalarem.

- Rapaz, esse bicho é bom hein! – Disse Synth, apontando para o vaqueiro.

- Hum! Qualquer um conseguiria lidar com um grupinho pequeno desses – Disse Taelin, desprezando o pobre rapaz.

– Vamos embora, como vocês podem ver ele é mais do que capaz de lidar com esse grupo.

- Ah! Vamos ficar mais um pouquinho – Disse Leopoldo. – Essa batalha tá bem interessante.

Os olhos castanhos de Taelin se voltam pra o sapinho - Joel, você não estava faminto? Não acha melhor irmos embo-

- Não. Está bela peleja aplacou minha fome intensa.

Taelin se virá de costas, com os braços cruzados e começa a bater o pé furiosa.

Eu nunca gostei de lanças, sempre achei uma arma muito fraca e sem graça, mas devo dizer que ver o vaqueiro brandeando uma mudou a minha opinião sobre à arma, o garoto sabia como usar ao máximo a maior vantagem da lança, a distância. O vaqueiro ataca rápido, sempre visando perfurar o coração das vítimas, após uma sequência de golpes rápidos o vaqueiro muda sua postura de ataca para uma defensiva, afim de recupera um pouco do folego antes de dar outra investida.

Contudo, sua vida quase chegou ao fim por conta de um golpe descuidado. Ao notar que um saci pretendia lançar um feitiço no seu cactui o vaqueiro partiu pra cima da criatura e deu-lhe uma rasteira.

- Com uma perna só também fica fácil – Disse Leopoldo.

O vaqueiro girou sua lança e a cravou na cabeça do saci com extrema brutalidade, o golpe foi tão brutal que assustou todos os outros sacis, fazendo os dar um pulinho para trás de tanto medo. O lanceiro levanta a cabeça sorrindo, encara todos os sacis nos olhos e diz

- Hã! Se não quiserem um buraco bem no meio da fuça igual essa daqui vão embora agora, ou preparem-se para enfrentar a fúria do incrível PA-

Toda confiança do vaqueiro sumiu no momento em que ele tentou tirar sua lança da cabeça do saci e ela não saiu. A força que ele aplicou em seu golpe de misericórdia foi tamanha que nem mesmo o rei Arthur conseguiria tira-la. O vaqueiro fixou sua bota de couro sobre o peito do saci, agarrou o cabo da lança com as duas mãos e a puxou incessantemente, porém era inútil a lança não queria sair de jeito nenhum.

- Nesses momentos é sempre bom ter um pouco de manteiga a mão – Disse Joel.

Vendo a cena patética em que se encontra o vaqueiro, os sacis começaram a zombar dele, seu cactui tentou ajuda-lo, porém rapidamente foi cercado de sacis que o impediram. Certos de que o vaqueiro não poderia usar sua lança, os demônios da areia calmamente se preparavam para lançar bolas de fogo, desesperado o lanceiro puxou sua lança com tanta força, que acabou arrancando a cabeça do saci, ele finalmente havia recuperado sua arma, mas agora uma chuva de bolas de fogo vinha em sua direção.

‘’ – É o fim, não há como eu escapar desse ataque ... Queria pelo menos ter visto ela uma última vez.’’

É então, nesse momento dramático que Synth resolve agir, o aventureiro desce dos céus bem na frente do vaqueiro e com um simples brandir da Darkwave, ele corta todas as bolas de fogos.

- Aí! Você se importa se eu e os meus amigos entrarmos na briga também?

Empurrando com o pé, o vaqueiro retira a cabeça do saci da lança.

- Oxi! Nem precisava pedi homi.

Leopoldo saca sua adaga - Hehe! Então vamos lá.

A batalha durou apenas alguns minutos e em nenhum momento a arqueira participou. Quando a luta chegou ao fim o vaqueiro abraçou seu querido cactui e depois foi em direção a Synth para cumprimenta-lo.

- Eu me chamo Pablo Kezef e o nome dessa coisa fofa aqui é Chico, muito obrigado pela ajuda.

– Hum! Prazer, Synth vaporwave ao seu dispor, e aqueles dois ali são Leopoldo e Joelsun Ah! E aquela lá atrás é a minha filha, Taelin.

O vaqueiro arregala os olhos ao descobrir a identidade do aventureiro, ele começa a tremer e a suar frio.

- Synth, Synth Vaporwave.

- Isso mesmo mano.

- SYNTH VAPORWAVE! Então aqui ali só pode ser.

Ao perceber que foi descoberta, Taeli vira-se.

- Que cara chato.

- TAEZINHA!

- Taezinha? – Disse Synth pra si mesmo.

O vaqueiro pula na direção da arqueira, mas é brutalmente recebido com um chute bem no meio do rosto, o chute arremessa o vaqueiro para longe.

- Meu mozinho, porque você não me contou que seu pai estava vindo para a cidade? Eu teria feito um belo banquete para comemorar sua chegada.

- Cale-se, não quero que meu pai pense que temos algo que com certeza não temos.

- Ahh! Então vocês não são namorados?

- CLARO QUE NÃO! O Pablo é apenas um amigo e nada mais que isso.

Pablo lentamente se levanta do chão, passa o dedo por baixo do nariz para parar o sangramento e com a expressão mais séria que um ser humano é capaz de fazer, ele diz.

- Senhor Vaporwave, sua filha é o motivo pelo qual levanto toda manhã, ela é o meu sol, o ar que respiro, ela é o meu mundo. Taelin é para mim a fornalha para os anões, o arco e flecha para os elfos, o ouro para o goblins, o capim para os camelos, sem ela eu não sou capaz de sorrir.

- Poético – Disse Joel.

P-p-pare de dizer essas coisas, s-seu bobão – Disse a arqueira, com o rosto mais vermelho que uma cereja.

- Então você gosta da minha filha?

- Não, eu a amo e estou disposto a provar nesse exato momento o quanto eu a desejo.

O vaqueiro levanta o chapéu e pega uma pequena caixa preta, se ajoelhando na frente do aventureiro e ele abre a pequena caixa, uma linda aliança de casamento é o que estava dentro dela.

- Eu estava guardando isso para sua chegada Coff! Coff! Senhor Vaporwave, o senhor concederia a mão da sua filha a mim?

A arqueira fica ainda mais vermelha chegando ao ponto de sair fumaça do seu rosto, Leopoldo e Joel ficam boquiaberto com a coragem do rapaz, nem mesmo o seu cactui esperava por esse repentino pedido de casamento.

- Uou! Você me surpreendeu de verdade agora, não esperava receber um pedido de casamento no deserto. Pois bem Pablo, primeiramente, me chame só de Synth, blz. Segundamente, tudo bem mano pode se casar com a minha filha.

- O que? Você, você disse sim?

- Ué! É claro, se você e minha filha se amam não vejo motivos para interferir no seu romance.

- PAPAI! Como o senhor pode conceder a mão de sua filha a um total estranho?

- Mas ele não é um estranho, ele é o Pablo, não é mesmo Pablo... Seu nome é Pablo não é Pablo?

- Sim, eu sou Pablo e esse é o Chico – O Cactui acena para os aventureiros.

- Tá vendo, eu sei o nome dele.

- Só o nome não é suficiente, você precisa saber com o que ele trabalha, o que gosta de fazer, o que come, onde vive, o senhor não sabe absolutamente nada sobre ele, o Pablo poderia muito bem ser um saci disfarçado para nós matar.

- Ela tem razão Synth – Disse Leopoldo. – Ele pode ser um saci.

- Como, se eu tenho duas pernas? – Disse Pablo.

- Hm! Ele pode estar usando uma perna de pau – Indagou Joel, pensativo.

Tomado pelo medo Synth apalpa as pernas de Pablo – Não, ele é normal mesmo gente. Está vendo filha, estou ficando cada vez mais íntimo do meu genro, agora eu sei que ele não é um saci e que tem pernas bem torneadas.

- Is-isso não é o bastante.

- Olha Filha, o motivo de eu ter dado a minha benção ao Pablo é apenas um, quando ele recitou aquele poema dizendo o quanto te amava, eu olhei para você e vi que seus olhos estavam brilhando, um brilho majestoso, como a chuva de milhares de estrelas. Esse é o mesmo brilho que tem nós olhos da sua mãe ao me ver, por isso eu sei que você o ama.

A arqueira fica toda vermelha – Vo-vo-você está delirando papai, ficar exposto tanto tempo debaixo do sol mexeu com sua cabeça. Eu não vou perder mais meu tempo aqui estou indo para casa agora e não vou cozinhar mais, se quiserem comer façam vocês mesmo a buchada.

- Mas que droga, logo hoje que estou faminto – Disse Joel.

A partida de Taelin deixa o pobre Pablo desanimado – Poxa, será que ela não gosta de mim mesmo.

- Não fique triste – Disse Synth. - Ela gosta de você, eu consigo sentir isso, cedo ou tarde ela irá aceitar o seu amor, tenho esperanças nisso.

- Obrigado Synth, você é ainda mais legal do que Taelin havia me contado.

- Hehe! – O aventureiro dá tapinhas nas costas do vaqueiro. - Mas me diz, você sabe fazer buchada? 

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