Capítulos (1 de 19) 07 Jun, 2020
Capítulo 10: Caldo de cana docinho docinho
Synth, Leopoldo, Joelsun e Pablo travaram uma árdua batalha na cozinha, se utilizado de suas incríveis habilidades o grupo preparou uma excelente buchada de boi para o almoço. Suando frio e tremendo mais que vara verde, Pablo serviu seu prato para que Chico e Taelin avaliassem. Chico deu um joinha e um belo sorriso para os aventureiros cozinheiros, isso deu mais confiança ao jovem vaqueiro, quanto a Taelin, a arqueira provou a comida e se espantou com o gosto, ela claramente havia gostado da buchada, porém se restringiu a dizer apenas ‘’ É comestível’’.
Após o almoço, o pessoal se reuniu em baixo de uma grande árvore do lado da casa de Taelin.
- Mas então filhinha – Disse Synth, palitando os dentes encostado no tronco da árvore. – Como foi que você libertou esse Faraó malvadão e quem é ele?
- Bem, vamos começar do começo – Disse Taelin se sentando numa rede. – A algumas semanas atrás os arqueólogos encontraram uma porta negra enterrada nas areias do deserto, a porta tinha cerca de 3 metros de altura, no centro dela havia o desenho de um enorme sol dourado, com labaredas vermelhas ao seu redor. Os arqueólogos tiveram muita dificuldade para abrir a porta, eles tentaram de tudo para abri-la, porém nada funcionava até que um deles resolveu limpar o chão na frente da porta, embaixo de toda aquela areia havia um tapete e embaixo do tapete tinha uma chave e a chave abria a porta. E é aqui que eu entro na história.
- Nós entramos, meu amor – Disse Pablo. – Os arqueólogos contrataram alguns mercenários para protege-los nessa incursão, entre eles estavam eu e Taelin.
- Ah! É você estava lá, tinha me esquecido – Disse a arqueira, em tom de menosprezo.
- Ainda bem que eu lembrei – Retrucou o vaqueiro, sorrindo. – A grande porta negra guardava uma sala com paredes roxas repletas de hieróglifos dourados pulsantes, os desenhos dourados se esticavam ao máximo como se quisessem pular em cima da gente.
- Esses hieróglifos contavam uma história, a história do príncipe Sinabu – Disse Taelin.
- Sinabu – Continuou Pablo. - Era um príncipe muito bunito, mas muito bunito mesmo, sua boniteza era tamanha que deixa homens e mulheres ouriçados.
- E aí daquele que não o elogia-se por sua buniteza, quem cometesse esse pecado seria jogado aos crocodilos pelo príncipe, agora imagine se alguém dissesse que esse fio de rapariga é feio? Seu narcisismo era tão grande, que o príncipe acreditava ser a reencarnação da própria rainha Cleópatra.
- Mas ele era bonito mesmo? – Indagou Leopoldo.
- Olha, a gente não chegou a ver a fuça dele, mas pelos desenhos do príncipe nas paredes... Não era tudo isso não.
- Entre o príncipe e um doce de leite quem você acha mais bonito? – Disse Synth.
- Um doce de leite sem dúvidas algumas.
- Agora, continuando a história. O sonho do Príncipe era governar o deserto ainda jovem, no ápice da sua buniteza, porém ele viu seu sonho morrer no dia em que seu pai encontrou uma das armas mais poderosas do deserto, uma lâmpada mágica. Como primeiro desejo ele pediu a imortalidade, porém o gênio disse que era impossível realizar tal de desejo pois todas as coisas chegam ao fim um dia, isso alivio o coração de Sinabu, contudo o faraó era um homi muito experto e se não poderia viver para sempre, ele então desejou prolongar seu fim, desejando viver 3 vezes mais que o seu filho.
- Mas que homem sagaz – Disse Joel.
- Nem tanto – Disse Taelin. – Foi por causa desse desejo que o reinado do faraó chegou ao fim.
- Eita!
- Bem, o príncipe ficou revoltado com aquele pedido e na mesma noite tentou matar o faraó enquanto dormia, porém o gênio tava de orelha em pé na hora e conseguiu pegar Sinabu antes que pudesse cortar a garganta do seu pai. Por sua traição o príncipe foi exilado, seu pai o deixou ir apenas com a roupa do corpo e nada mais. Sinabu agora seguia o vento em direção ao nada, até que uma noite já cansado de andar, faminto e com sede, o príncipe caiu no chão pronto para receber o doce abraço da morte.
- E nesse momento, quando o príncipe desistiu de tudo uma estrela falou com ele, a estrela disse ao príncipe para viajar para o nordeste, pois lá ele iria encontrar o poder necessário para controlar o deserto. Sem outra escolha, Sinabu seguiu o conselho da estrela e viajou para o nordeste onde ele encontrou uma pirâmide negra.
- No primeiro andar da pirâmide tinha um sarcófago, o sarcófago mais simples e sem graça que o príncipe já viu, de dentro dele saiu uma velha carcomida que disse o seguinte ‘’ Para governa o deserto é preciso sacrificar aquilo que você mais ama’’ E o que o príncipe mais amava era a sua beleza, ele então deu a sua juventude para a velha, que ao consumi-la se tornou uma linda mulher novamente, mas não tão bela quanto Taelin, pois ela é a verdadeira reencarnação de Cleópatra.
- Se contenha em apenas contar a história e não de pitacos – Disse Taelin, vermelha.
- Tudo bem, mozinho... O príncipe cobriu seu rosto com faixas para esconder sua feiura e, junto com a mulher, seguiu para o segundo andar da pirâmide onde havia outro sarcófago, desse saiu um cangaceiro dourado, que segurava uma adaga em forma de Ankha. O cangaceiro entregou a adaga para o príncipe logo após dizer ‘’ Para controlar o poder supremo do deserto, você precisará abandonar este corpo mortal e renascer como um deus’’ E assim foi feito, Sinabu rasgou o bucho com a faca e morreu.
- O homem e a mulher levaram o corpo do príncipe para o último andar onde havia um luxuoso sarcófago aberto esperando o príncipe, eles colocaram o corpo lá dentro e depois de algum tempo o príncipe saiu, porém ele não era mais o mesmo seu corpo estava repleto rachaduras de onde saiam raios solares e seu nome não era mais Sinabu, agora ele atendia pelo nome de Sand’ Uicchi.
- Hmm! Bem eu conto o resto agora, Pablo – Disse Taelin, esticando os braços. – Você deve estar cansado de tanto falar.
- Ah! Obrigado.
- Depois de ressuscitar no corpo de um deus, Sand’ Uicchi voltou para o reino de seu pai e o destruiu, a vingança contra seu pai marcou o início de uma era de destruições sem fim, os demônios do deserto andavam livremente pelas areias atrás de almas inocente para saciar sua sede sem fim por sangue.
- Mas destruição não era a única coisa que Sand’Uicchi desejava. Usando o poder do Olho de Hórus o faraó tentou absorver o sol para se tornar assim o novo centro do universo, felizmente os deuses interviram e após uma luta árdua eles conseguiram, por fim prender Sand’Uicchi e os seus seguidores dentro da pirâmide negra. E essa é toda a história do maior vilão do deserto.
- Legal – Disse Synth. – Assistiria um anime disso, mas vem cá cade a parte em que você o liberta?
- Ah! Quanto a isso, não fui quem o libertou, eu disse aquilo para fazer o senhor vim mais rápido.
- Foram os arqueólogos que libertaram Sand’Uicchi – Disse Pablo. – Eles encontraram o sarcófago negro que guardava o deus faraó e o abriram. No momento em que ele foi libertado, um mar de chamas consumiu a sala torrando todo mundo que tava lá dentro, exceto a gente.
- Nós sobrevivemos graças a isso – Taelin puxa de dentro da sua camisa um medalhão. - Durante a exploração eu encontrei o Olho de Hórus, porém não disse nada a ninguém já que pretendia ficar com ele e foi graças a minha ganancia que conseguimos sobreviver a tormenta de fogo.
- Quanto orgulho, saiu igualzinha ao papai.
- Esse olho me permite controlar as chamas e assim eu fiz, controlei aquele mar de fogo e fugir junto com Pablo.
- Ele é a chave para a nossa vitória – Disse Pablo. – Com Taelin controlando as chamas podemos avançar pra cima do Faraó tranquilamente.
- Mas espera aí – Disse Leopoldo. – Você não disse que ele reviveu no corpo de um deus? Então ele não deveria ser, sei lá, imortal?
- A nova lataria que deram pra ele não o deixa imortal, mas sim apto para suportar todo o poder do sol, ou seja, Sand’Uicchi pode morrer se levar uma fachadinha no bucho.
- Muito bem – Disse Synth. – Agora que vocês nos contaram tudo, quando partiremos para sentar a porrada nesse cara?
- Amanhã – Disse Pablo. - Hoje quero leva-los para conhecer a minha cidade e o meu camelo.
- Mas de jeito nenhum, partiremos hoje. Não podemos perde tempo com coisas triviais – Disse Taelin.
- Perdão, mas você não disse que Sand’Uicchi não pode absorver o sol sem esse medalhão, então qual o problema de folgarmos um dia? – Disse Joel.
- Mas esse não é o único problema, titio sapo, o faraó pode mandar os monstros do deserto atrás de nós; enxames de gafanhoto, golems de areia, esfinges, até mesmo o ataca dos sacis pode ter sido ordem dele. Isso sem falar nos seus seguidores, Fanus e Belladona, que estão por aí nós caçando para pegar esse medalhão.
- Ah! Relaxa filhinha, se eles aparecem por aqui nós os botamos pra correr, já espancamos os sacis uma vez e podemos fazer de novo, agora vamos tirar esse dia de folga para conhecer o camelo do Pablo.
- Steve, Steve Casco-cromado é o nome dele.
- Belo nome.
- Obrigado, Joel.
- Será que vocês não entendem, só de estar sobre a luz do sol Sand’Uicchi está ficando cada vez mais forte, precisamos agir logo para derrota-lo, afinal eu não o chamei aqui para tá passeando pela cidade papai.
- Ai! Essa doeu em mim – Disse Leopoldo.
- Tudo bem, vamos fazer assim, levante a mão quem quer ir amanhã.
Com exceção de Taelin todos levantam as mãos.
- Agora quem quer ir hoje?
Apenas Taelin levanta a mão.
- Muito bem, a maioria venceu, vamo se bora conhecer o Steve, pessoal – Disse Synth.
- A maioria realmente é formada por idiotas. Bom, já que não vou conseguir impedi-los de ir embora, tomem cuidado, os seguidores do faraó estão nós caçando, não confiem em ninguém e principalmente, principalmente. Não conte sobre o medalhão para ninguém.
Por onde se olha-se havia destruição, os sacis arrasaram com a cidade inteira, porém o povo do deserto não estava triste ou abalado com a situação, pelo contrário, eles estavam muito putos, xingando de tudo que é nome os sacis, enquanto reerguiam as barracas de frutas. As casas do povo do deserto são feitas de barro e possuem portas, janelas e telhados feitas da carapaça de verme branco, as casas do pessoal mais abastado de grana possuem até um muro feito dessa carapaça, para impedir a entrada de sacis ou pior ainda, visitas na hora do almoço.
Pablo nos levou até o pasto onde os vaqueiros e comerciantes deixam seus camelos guardados, confesso que ficar olhando para um monte de camelos por mais de 5 segundos fica chato bem rápido.
- Aí! Pablo que tipo de camelo é aquele ali com uma bola só nas costas? – Indagou Leopoldo.
- Aquilo é um Dromedário, ele é um parente muito próximo dos camelos.
- E qual a diferença entre eles? – Disse Joelsun, observando bem de perto o animal.
- São 3 as diferenças; o dromedário só tem uma bola nas costas, é mais alto e mais rápido que os camelos, MAS! O meu Steve é diferenciado, as leis da natureza não se aplicam a ele, o Steve é o campeão invicto da luta de camelos, além de carregar com orgulho o título de mais rápido do deserto.
- Lutas de camelo – Disse Leopoldo, surpreso. – Taí uma coisa que eu queria ver.
- Eu posso leva-los para conhecer esse esporte fantástico depois.
- Legal.
- Pablo – Disse Synth. – Você tá falando que o seu camelo é fodão e tudo mais, mas cadê ele?
- Perai que vou chamar – O vaqueiro leva as mãos a boca, em forma de concha para potencializar o seu grito, e então grita bem alto ‘’ STEVE’’ Pablo chama à atenção de todos os animais do pasto menos a do seu camelo, ele tenta mais uma vez e novamente nada acontece.
- Oxi! Onde será que tá esse fulero? STEVE SEU FI DE RAPARIGA APARECA!
- Haha! Tudo bem se ele não quiser aparecer – Disse Synth. – A gente pode ir da uma volta na cidade e depois vem ver ele.
- Não, tá com a peste o que ele não aparecer, vou trazer ele pelo rabudo se precisar.
- Bem, eu desejo boa sorte pra vocês – Disse Leopoldo. – Mas eu vou ter de sair agora, preciso comprar leite antes da gente viajar.
- E-eu vou com você Leopoldo, até logo pessoal.
- Perai pessoal eu vou junto.
Pablo segura na mão de Synth – Perê, Chico vai buscar aquele camelo safado agora. Diga que tem gente esperando ele Chico – O cactui dá um joinha e parte pasto adentro.
- Desculpe pela demora, daqui a pouco você vai conhece-lo.
- Hehe! Tudo bem.
‘’- Esqueleto maldito, me deixou aqui sozinho com esse maluco e os camelos, vai ter volta Leopoldo.’’
Chico é um cactui gordinho de 1,40 de altura, ele possuí braços longos, pernas curtas e uma barriga d’água, além de um charmoso bigode. Ele usa um chapéu de couro branco na cabeça e uma camisa aberta de manga longa preta, com linhas e bolinhas brancas. Chico corre com os braços abertos por dentro do pasto afim de encontrar o seu amigo camelo, Steve, ele olha para um lado depois para o outro e nada de achar o Steve, o cactui então resolve adentrar na mata fechada para tentar acha-lo.
Se esgueirando pelo meio do mato Chico acaba por encontrar o seu amigo, porém, ao ver o que Steve estava fazendo, o cactui entende o motivo dele não ter atendido ao chamado de Pablo e silenciosamente sai dali.
- Ele vai voltar logo – Logo após dizer isso Pablo avista chico se aproximando.
- Oia! O Chico tá voltando.
- Cade o Steve, Chico? – Indagou Pablo.
O cactui nada disse – Bora rapaiz me diz, cade aquele fulero?
- Deixa pra lá Pablo, outra hora eu conheço o seu camelo boladão de amor.
- Qui nada, eu mermo vou buscar ele agora – Ao ouvir aquilo o cactui se coloca na frente de Pablo e balança a cabeça em sinal de negação.
- Oxi, o que foi Chico por que tu tá me impedindo?
O cactui faz um gesto com as mãos que até mesmo Synth entende o motivo do desaparecimento de seu camelo.
- Hahaha! Camelo safado esse seu.
- Devia ter me falado isso desde o começo Chico. Bem Synth, vamo ter de deixar essa apresentação pra outra hora merm- O cactui novamente interfere na conversa, ele puxa a calça de Pablo para chamar a sua atenção e logo em seguida aponta para a sanfona nas costas do seu dono.
- Acho que ele quer que tu toque uma música.
- Eu não posso fazer isso Chico, não estamos numa situação de risco, deixa o Steve pra lá, depois eu chamo ele.
Synth acha a fala de Pablo estranha, porém não diz nada – Bom, para compensar o tempo perdido aqui, vou leva-lo ao lugar que fez o melhor manuê do mundo.
- Hehe! Perfeito.
Enquanto isso, Leopoldo e Joelsun tentavam passear tranquilamente pela cidade, e eu digo tentavam mesmo, pois a cada dois segundos um ambulante parava a dupla para mostrar os seus produtos, geralmente roupas, redes, cadeiras, cobertas, panelas e pratos, chegaram até mesmo a oferecer um bode para a dupla. A única coisa que chamou atenção dos aventureiros foi um homem sentando no chão tocando flauta, com um cesto na sua frente. Esse homem era um encantador de serpentes e toda vez que ele tocava sua flauta a cobra subia, Leopoldo ficou impressionado com aquilo e pediu para que o encantador deixa -se ele tentar fazer aquilo, pelo menos uma vez.
Após muito insistir, o encantador de serpentes acabou cedendo ao pedido do esqueleto, Leopoldo todo animado colocou um turbante na cabeça, se sentou no chão com as pernas cruzadas e começou a tocar a flauta, não demorou muito e a cobra começou a subir, porém quando ela viu o rosto de Leopoldo, a cobra rapidamente voltou pra dentro do cesto.
- Será que eu sou tão feio assim? – Indagou Leopoldo, quase chorando.
- Não fique assim Leopoldo, tenho certeza que alguém deve te achar bonito.
- Você realmente acredita nisso?
- Mas é claro, todo mundo tem sua alma gêmea, aposto que a sua deve estar enterrada em algum lugar por aí só o esperando.
- Olha, ali tem um barzinho por que não vamos lá beber um pouco?
Leopoldo se levanta do chão e enxuga as lágrimas – Espero que eles sirvam leitinho quente.
‘’ Camelo Manco’’ Esse é o nome do barzinho, um local simples, com algumas mesas e cadeiras de plástico, pelas paredes há vários quadros dos campeões das corridas de camelos. Atrás do balcão está o seu zé, o dono do bar, que com sua fiel flanela espanta as moscas que insistem em pousar nos seus salgadinhos.
O bar estava animado antes da chegada de Leopoldo e Joel, quando eles entraram todos ficaram em silêncio, os olhando por cima dos ombros, o sapinho ficou logo apreensivo ao contrário de Leopoldo que não deu a mínima para as encaradas dos bebuns e foi rapidinho até o balcão pedir uma bebida.
- Seu zé me vê uma bebida aí – Disse Leopoldo, com o braço escorado no balcão.
- O que você quer beber?
- Leite, um copo de leite por favor.
Os clientes do bar começaram a rir do esqueleto, mas pastou apenas Leopoldo olhar pra eles que todos voltaram rapidinho a ficar calados, seu zé foi até a cozinha e trouxe o copo de leite de Leopoldo, ele colocou o copo no balcão, jogou a flanela no ombro e disse, com um sorrisinho no rosto.
- Vai querer um canudinho também?
Todos voltaram a dar risada do esqueleto, porém Leopoldo não deu a mínima. Ele pegou o copo e o virou de uma só vez, bebendo todo o leite em um único gole, e em seguida ele finaliza batendo o copo com força no balcão, quase o quebrando em vários pedaços.
- Cachaça é pra criancinha, homem de verdade toma leite – Disse Leopoldo, limpando o bigodinho de leite.
- Hahaha! Tá se achando o machão hein! Caverinha – Disse um dos cachaceiros.
- Se tu é o bonzão mesmo, quero ver só como se sai no jogo da faca.
- Jogo da faca? – Disse Joelsun.
O homem saca uma faca da cintura, coloca uma das mãos sobre a mesa, com os dedos bem afastados um do outro, e, segurando a faca com a outra mão, o bebum passa a faca no espaço entre os dedos, porém sem acerta os dedos. Terminada a apresentação, o bebum estende a faca para Leopoldo.
- Isso é o jogo da faca, vai encarar, machão?
O bafo podre do bebum entra nas narinas de Leopoldo, o esqueleto balança a mão na frente do rosto para afastar o odor enquanto se aproxima da mesa, ele dispensa a faca mixuruca do cachaceiro, coloca sua mão cadavérica sobre a mesa de plástico, com os dedos bem afastado um do outro. Com sua gloriosa adaga dourada em mãos, ele rapidamente passa à adaga no espaço entre os seus dedos, sem acerta-los uma única vez.
- Mas que destreza magnifica, Leopoldo – Disse Joel, com a boca cheia de salgadinho.
- Hehe! Obrigado, o joguinho é até divertidinho, mas dá pra ficar melhor – Leopoldo junta o dedo indicador com o médio e o anelar com o dedinho, assim aumentando as chances de acertar a própria mão ao invés da mesa de plástico. No entanto isso não acontece, pois o esqueleto mais uma vez demonstra ter uma precisão impecável.
- Agora é a sua fez – Disse Leopoldo para o bebum.
- Hm! Isso não é nada demais – O bebum faz o mesmo processo de Leopoldo, porém ao contrário do esqueleto, o cachaceiro não possui uma coordenação tão boa e acaba fazendo um pequeno corte no dedo indicador.
- Ohh! Parece que eu venci o jogo – O bebum nada disse, pois sua boca estava ocupada chupando o próprio dedo para parar o sangramento.
Sentando numa mesa, no canto do bar, perto de uma parada, está um velho vestido trapos e um enorme chapéu preto na cabeça. O estranho observava tudo através das lentes redondas dos seus óculos, quando Leopoldo derrotou o bebum ele resolveu se revelar.
- Tap! Tap! Tap! Que pontaria porreta!!! – Disse o velho. - Achei que só havia cachaceiros nessa cidade, mas vejo que ainda existem cabras da peste por aqui. Ei! Sapo cururu e Caveirinha sentem-se aqui e tomem uma comigo.
- Sapo cururu? – Disse Joel.
- Acho que ele tá falando com você – Disse Leopoldo.
O esqueleto puxa uma cadeira e se senta na mesa do velho estranho - Hehe! Obrigado pelo elogio, mas nós não somos daqui.
- Não?
- Não, viemos de terras distantes para ajudar a filha de um amigo – Completou Joel.
- Sei... Esse amigo deve ser muito importante, pra voceis ter vindo ajudar ele nesse fim de mundo.
- E como – Disse Leopoldo, com um sorriso no rosto. – O Synth é um cara legal, fraco, mas muito legal, faria qualquer coisa pra ajuda-lo.
- Digo o mesmo, ele salvou minha vida uma vez e de lá pra cá se revelou um aventureiro muito habilidoso e ganancioso... Para mim é uma honra lutar ao lado dele.
- Que legal, pra voceis tarem falando tão bem dele assim, esse Synth deve ser gente boissima. Mas se eu fosse voceis tomava cuidado, porque o deserto anda muito perigoso de um tempo pra cá.
- A gente tá esperto – Disse Leopoldo. – Já sabemos do faraó malvadão que despertou e tá tocando o terror por aqui, mas relaxa em breve vamos acabar com ele.
- LEOPOLDO – Gritou Joel, lembrando do aviso de Taelin.
- O que?
As lentes dos óculos do velho brilham, com a fala do esqueleto – Ehhh! Então voceis estão aqui pra matar o faraó? Como pretendem fazer isso?
- Haha! Não, estamos aqui só para ajudar a filha de um amigo nosso na roça – Disse Joel.
- Bem, se eu fosse voceis estaria mais preocupado com Fanus e Belladona.
- Quem? – Indagou Leopoldo.
- Ah! Então voceis não conhecem os guardiões do faraó?! Então deixa que eu conto, Belladona é a mãe das múmias e protetora dos sarcófagos, é ela também quem manda as pragas do deserto destruírem as plantações do povo.
- Quanto a Fanus também conhecido como ‘’ O rasga bucho’’ É um sujeito perverso que mata por prazer, uma das atrocidades mais cruéis que ele já fez, foi fazer um homem comer sal enquanto arrancava seu couro fora.
- Que horrível – Disse Joel, enojado.
- Haha! Ele sabe se divertir.
Leopoldo e Joel trocam olhares, confusos. Após perceber que a dupla de aventureiros estranhou seu comentário, o velhinho fingiu uma tosse muito falsa e disse.
- B- bem, seu fosse voceis começaria a pensar em como derrotar esses dois antes de cogitar a possibilidade de matar o faraó.
- Obrigado pela história e pelo conselho senhor de idade estranho – Disse Joel. – Mas já chegou a nossa hora, vamos Leopoldo.
- Ah! Espere – Disse o velhinho. - Espere só um segundo.
O velho colocou as duas mãos em baixo da mesa e de lá pegou uma chaleira negra com o desenho de uma estrela azul claro na tampa. Em seguida o velho pegou dois copos e os encheu com o liquido verde que saia da chaleira.
- Bebam é por minha conta – Disse o velho oferecendo as bebidas.
- Ehh! O que é isso? – Indagou Joel.
- Caldo de cana, uma bebida típica do deserto. Experimentem.
O sapinho encara Leopoldo – Vai fundo – Disse o esqueleto, em seguida ele deu um joinha para tentar aumentar a confiança de Joel, porém não funcionou. Joel pega o copo e cheira a bebida, para sua surpresa a bebida tem o cheiro maravilhoso de água de coco, o sapinho então presumiu que o gosto também seria de água de coco e resolveu tomar a bebida. Dois segundos depois, Joel começou a se contorcer e fazer caretas horríveis.
- O QUE FOI JOEL? – Gritou Leopoldo, em seguida ele cheirou a bebida, sentiu o cheiro de água de coco e resolveu toma-la, e, assim como o sapinho, dois segundos depois ele começou a se contorcer.
- É doce demais!!! – Disse Joel, entre uma careta e outra.
- HAHEHEHE! A cara de voceis é muito engraçada, pra beber isso daí voceis precisa misturar com isso aqui oh! – O velho estende a mão e oferece um limão para os aventureiros.
Leopoldo rapidamente pega o limão - Argh! Por que não nos avisou disso antes? – Em seguida ele espreme o limão dentro da boca e depois passa pra Joel, que faz o mesmo.
- Hehe! Me desculpe, não fiz por mal, só queria brincar com voceis. Mas sério agora, pingue uma gota de limão no caldo de cana que ele fica uma delícia, eu juro.
Leopoldo coça o queixo liso e resolver fazer o teste, após pingar a gota de limão, a espuma da bebida assume uma forma, uma forma que o esqueleto conhecia muito bem afinal era ele mesmo.
- QUE MERDA É ESSA!!! – Disse Leopoldo surpreso.
A espuma mudava constantemente para formas que Leopoldo conhecia muito bem, era como se as memorias dele estivesse sendo projetadas na espuma do caldo de cana. Leopoldo e Joel conseguem ver com clareza as batalhas que tiveram antes de chegar no deserto, como o confronto com a madame gaiola, a fera do luar espectral e o Capitão Brock, a espuma fez um tour por todas as suas memorias até o presente momento.
– Ahhhhh! Então vocês pretendem usar o Olho de Hórus para matar o faraó?
- Interessante rapaiz hahaha! – Disse o velho.
Leopoldo e Joel entram em pânico, o esqueleto de imediato saca sua adaga e sem pensar duas vezes aponta para o velho.
– Q-quem é você?
- Pera lá! Leopoldo Calisto Wice Khan Merituz Vazeluz Nordius Romanoff Ufa! Nome grande da peste.
O velho pega a chaleira e beba o caldo de cana direto do bico, Leopoldo aproxima ainda mais sua adaga do pescoço do senhor de idade.
- QUEM É VOCÊ?
- Calma... – Após dizer essa simples palavra o velho ficou estático, olhando para o nada enquanto alisava a barba.
- DIZ LOGO VELHO BROCHA!!! QUEM É VOCÊ PORRA?
- Parando pra pensar agora, eu acho que não contei como é a lataria do Fanus né? Então deixa eu descreve-lo para voceis.
- Pra começar, Fanus é um homem na flor da idade, alto, forte, viril, resumindo ele é muito gostosão.
De repente, o corpo do velho começou a mudar, numa espécie de metamorfose o corpo do velho se transformou no que ele acabará de descrever. Assustado com aquilo, Joel passa a mão em seu martelo, porém não o empunha.
- Ahhh! Não aguentava mais ficar naquela forma, tava me sentido veiu demais. Bem, continuando, Fanus se veste como um cangaceiro, mas suas roupas não são feitas de couro e sim de fios de ouro.
De repente o corpo do homem começa a brilhar, mas para rapidamente - Ah! Quase e a me esquecendo, ele tem um lenço vermelho muito bunito enrolado no pescoço, dizem que o lenço é feito do couro de suas vítimas.
O corpo do homem novamente volta a brilhar e num passe de mágica, as roupas do até então velho mudam para as que ele havia descrito.
- Por último e mais importante, Fanus usa um enorme chapéu de cangaceiro com estrelas na ponta e um enorme olho no centro – Após estalar os dedos o chapéu do homem mudou para o que ele acabará de descrever.
- Bem eu acho que ficou na cara quem eu sou não?
- Com certeza – Disse Leopoldo, em seguida ele parte pra cima de Fanus, com a intenção de cortar sua garganta, entretanto o cangaceiro dourado defende o golpe de Leopoldo usando o fundo da chaleira. Nesse momento Joel sacou seu martelo, pronto para amassar a cabeça do inimigo, porém antes que isso pudesse acontecer, do bico chaleira saiu um jato de caldo de cana bem na cara do sapinho, a jatada fez Joel perder a visão, se aproveitando dessa brecha, Fanus bate com o fundo da chaleira na cabeça do sapinho fazendo-o se sentar na cadeira novamente.
Leopoldo tenta mais uma investida, porém Fanus consegue facilmente desviar do seu ataque e assim como fez com Joel, ele bate com a chaleira na cabeça do esqueleto.
- Tenham calma, eu vou lutar com voceis sim, afinal quero recuperar o olho de Hórus, mas... Vamos lutar lá fora porque eu num quero destruir o bar do seu zé não.
Fanus levanta da mesa – Vamos – Em seguida, ele caminha tranquilamente para fora do bar, como se tivesse certeza que não seria atacado pelas costas, o que de fato não acontece.
Furiosos e se sentido humilhados os aventureiros acompanham Fanus até a frente do bar onde acontecera a luta. Joel segura o seu martelo com as duas mãos, toma um pouco de distância e se prepara para pular, mas que os gatos pudessem miar Leopoldo entra na sua frente, com à adaga em mãos o esqueleto range os dentes furioso.
- Eu tomo conta desse cara, Joel.
- Tem certeza?
- Sim, vá avisar o pessoal que os nossos inimigos chegaram.
Joel analisa a situação por alguns segundos e acaba por guardar seu martelo.
- Tudo bem, eu vou, mas voltarei o mais rápido possível para ajuda-lo – Joel pega impulso e salta para longe, em direção a Synth.
- Hahaha! Agora é só você e eu, caveirinha.
- Caveira é no que eu vou te transformar – Disse Leopoldo, apontando sua adaga na direção de Fanus, após fazer isso o esqueleto nota que o seu oponente não carrega nenhuma arma, tudo que ele tem é uma chaleira.
- ...? A onde está sua arma?
- Bem aqui – Fanus da alguns tapinhas na chaleira em seu mão esquerda.
- Pretende me servir caldo de cana até que eu morra de diabetes?
Fanus dá uma risadinha e não diz nada. Do bico da chaleira, começa a sair uma fumaça roxa, com estrelas cintilantes dentro dela, era como se o céu estrelado estivesse saindo da chaleira do cangaceiro dourado. Essa fumaça continua a sair até atingir o tamanho e forma de uma lâmina de espada.
Empunhando a chaleira, agora como se fosse uma espada – Pode vim caveirinha.