Por algum motivo as reminiscências do ano anterior pareciam espiralar nos pensamentos de Morgana. Ela tinha chegado pontualmente ao ginásio, mas não havia nenhum sinal de Davi, e ele sempre costumava chegar horas adiantado para guardar o seu lugar preferido na arquibancada. Morgana sabia que seu amigo pensava que ela não gostava de ficar esperando, mas ele não sabia, nem poderia saber, que a razão era porquê quando Davi atrasava isso também interferia nos planos dela.

    A passos largos ela deixou o ginásio, a prioridade era impedir que algo acontecesse ao Davi. Na melhor das hipóteses ele ainda estaria debaixo de uma das árvores dos Campos Elíseos, lendo algum livro, ou conversando consigo mesmo.

     A praça central estava vazia, a maioria dos alunos já estavam no Coliseum, e os atrasados eram usualmente os novatos, andando a passos largos em direção ao campo Morgana viu um único rapaz, despreocupadamente olhando o local enquanto se dirigia ao rumo de onde os jogos iriam acontecer. Qualquer outro dia, a garota teria parado para observar melhor o rapaz, mas achar o Davi era seu único foco naquele momento.

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    O rapaz viu uma moça alta praticamente correndo na direção oposta ao ginásio.

     —  Eu tenho certeza que o Coliseum é na outra direção — ele pensou, mas não daria para alcançar a moça, e pelo olhar dela, ela não gostaria de ser alcançada.

     Pedro havia visitado a instituição quando ainda estava no colegial, e agora ele ia começar seus estudos na turma Oxos, dos manipuladores do elemento terra. Apesar da semana de adaptação já ter acabado, ele procurava andar cuidadosamente pelo hall que ligava os prédios à praça central, tentando entrar com o pé direito em cada local, uma superstição boba. 

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     — Um dia tanto esforço valerá a pena — ele suspirou olhando os edifícios que cobriam seu horizonte —, esse ano é o começo da caminhada que mudará minha vida. Eu devo ficar preparado para qualquer eventualidade.

   Enquanto dramatizava a situação em sua cabeça, Pedro observava pausadamente as construções que ele ainda não havia visitado. O edifício principal era constituído por sete prédios alinhados arquitetonicamente para formar um círculo. O hall de entrada levava para a Plaza, um jardim central com ramificações para os prédios acadêmicos e para os demais prédios situados ao redor, além do caminho que levava aos Campos Elísios.

    Olhando para todos os lados, mas sem ver nada a sua frente, o garoto sem perceber entrou em rota de colisão com outro rapaz que caiu alvoroçado no chão puxando Pedro consigo.

   — Me desculpa aí cara. Sério, desculpa mesmo — Pedro se levantou sem olhar para o outro rapaz, apenas preocupado em alinhar sua roupa verificando se havia sujado.

   — Eu que peço desculpas! Ultimamente eu tenho visitado muito o mundo da lua! — o outro rapaz respondeu sem se voltar para Pedro, mas por razões diferentes.

    Davi ainda estava no chão recolhendo os livros que deixara cair quando Pedro o cutucou para tentar se apresentar. Como se tivesse sido picado, o rapaz de cachinhos de supetão ficou de pé em posição de ataque com uma versão capa dura do Metodologia de Estudo de Abstração – volume 2 (873 páginas) em mãos prestes a tacá-lo no inimigo.

     Pedro ficou um tom mais pálido, petrificado, ele sabia que encontraria Davi ali, mas vê-lo de novo, depois de tantos incidentes, sólido e tangível, e tão... tão... Pedro não se moveu, não conseguia, e Davi permanecia com a pose de luta, quem olhasse de longe poderia jurar que alguém iria apanhar ali, mas de perto os olhos de Davi eram suaves e zombeteiros, e os lábios apertavam um sorriso que ameaça se manifestar. Pedro, como sempre, esperou o amigo tomar a iniciativa. Davi, desistindo de esperar, hábito que também não perdera, irradiou 

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