Capítulos (1 de 50) 25 Oct, 2020

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abundante de cabelos pretos impecavelmente penteados, combinando com os bigodes igualmente volumosos, escuros e ajeitados, os olhos um tom menos escuro que os cabelos. Morgana não lembra quando foi a última vez que viu seu pai sorrir, mas diferente de sua mãe, os olhos do pai não pareciam carregar desgosto quando encarava a filha, isso era o mais próximo de amor que ela recebia naquela família, e ela recebia com gratidão.

 O General acenou com a cabeça, Morgana entendia o aceno como “Espero que tenha tido um bom dia, vai dormir logo, bons sonhos”, mas isso seria uma sentença maior e mais atenciosa do que tudo o que seu pai lhe havia dirigido nos últimos... quatorze ou quinze anos. Ela gostava de pensar que seu pai também sabia como era se sentir impedido de se expressar dentro da sua própria casa, gostava de pensar que talvez, pelo menos seu pai a amava.

 - Pai. – A garota chamou quando o General se direcionou para a escada. Ele se virou e esperou sem falar nada. – Eu preciso conversar com o senhor e a mãe, amanhã se possível.

 De novo, nada foi dito, segundos se passaram, e Morgana sentiu vontade de se levantar e abraça-lo, mas não se moveu, seu pai acenou afirmativamente e se foi. Morgana queria chorar, queria quebrar algo, gritar, o que não seria adequado, então ela optou por se levantar e se trancar em seu quarto.

 O alarme tocou alto em seu celular e Morgana se levantou com um pulo, a anotação bruxuleando no quarto escuro, “22:00, tomar o remédio”. Morgana encarou a gaveta em sua cômoda onde ficavam as cartelas de remédio. Para enxaqueca. Fazia tempo que ela não tinha enxaquecas, desde que era pequena. Morgana perguntou uma vez ao seu pai se ela não poderia parar de tomar os comprimidos já que ela não tinha mais nenhuma dor e ele apenas respondeu “se não dói é por causa do remédio”. Isso quer dizer que se ela parasse a dor iria voltar, mas Morgana não se lembrava da dor.

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Cartela em mãos, tira um comprimido, pega água. Era um movimento involuntário. Todo dia. Às 22 horas. Ela olhou o comprimido. Hoje não. Jogou o comprimido no porta lápis sobre a mesinha perto da porta.


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