Capítulos (1 de 50) 23 Jan, 2021

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 Então, 20 de maio, em seu aniversário de vinte anos, Pedro foi chamado aos aposentos do Tutor. Pedro tremia pelo que estaria prestes a acontecer, e ele pensava consigo se ainda dava tempo de fugir. Fausto riu por trás de uma xícara de chá e indicou que Pedro se sentasse, não havia porque o rapaz se inquietar.

 Fausto explicou que não havia comprado o corpo de Pedro ou quaisquer outros favores relativos, ele havia feito um investimento em alguém com um enorme potencial para mudar o mundo. Ao ouvir isso Pedro ficou aliviado, e um pouco contente por alguém o reconhecer como um potencial. O homem mais velho então explicou sobre o SET e como o governo estava ativamente atacando turras não cadastrados no sistema, e como ele havia um ‘Plano’ para acabar com esse esquema perverso e proteger os turras que ainda vivem isolados da ‘civilização’.

 Pedro ouviu a tudo atento, e como parecia um preço pequeno a pagar em troca de tudo o que Fausto podia proporcioná-lo, ele aceitou ser o peão que o Tutor necessitava. Foi então que o Tutor explicou a primeira missão, localizar um rapaz chamado Davi, que poderia ser o último turra de uma linhagem extinta, e que se encontrava estudando na Setemptrionalem.

 O coração de Pedro pareceu triplicar dentro do peito. Aquele nome era o suficiente para que seu tolo e esperançoso coração palpitasse, mesmo ele sabendo que o Davi, o seu Davi estava morto, algo dentro dele parecia ter revivido. Tolo mesmo. Mas quando Pedro abriu o registo do tal Davi, Pedro foi engolfado por uma memória, de dois garotos sob um ipê olhando o nascer do sol e prometendo estudarem juntos na melhor escola para aperfeiçoarem seus poderes. Davi estava vivo. Como? Pedro teria que descobrir.

 Davi o olhava como se eles ainda fossem os mesmos garotos, brincando morro acima, alheios a tudo e a todos. Davi ainda olhava tudo como se Ribeirão das Dores não houvesse ardido em chamas quatro anos atrás. Pedro olhou o melhor amigo, ou ex melhor amigo, com o coração apertado e triste, tão triste. Pedro sentia que aquele Davi

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ali era um fantasma, o fantasma do garoto de anos atrás, e não o homem abatido que se escondia por trás dos olhos dourados. Davi tinha agora uma melhor amiga. Uma garota detestável, dois anos mais nova que Pedro. Ela era arrogante, prepotente, e com um complexo de liderança. Ela andava como se todos devessem venerá-la. Ou era assim que Pedro enxergava Morgana Santos da Cruz.

 A missão de Pedro era se aproximar de Davi – Fausto não sabia que Pedro já conhecia o ‘alvo’ – e convencê-lo a se unir ao ‘Plano’. Por que? Fausto explicou a dimensão e raridade dos poderes de Davi, e as possibilidades de uso caso Davi caísse nas mãos erradas.

 E Morgana parecia muito com as ‘mãos erradas’. Santos da Cruz... Onde Pedro já tinha ouvido esse sobrenome? O rapaz perguntou ao Tutor se ele tinha algumas informações sobre a família Santos da Cruz, para o qual Fausto informou que o General Rodolfo Afonso Santos da Cruz era a cabeça principal da cruzada anti-turras a qual o homem mais velho tinha objetivo de destruir. Pedro ficou possesso, mas ele não podia fazer nada contra a garota, o problema era o pai dela. Procurando mais informações sobre o tal General, Pedro olhou para a foto e se lembrou, não somente do homem quatro anos antes falando sobre o ‘incidente’ em Garataí, mas do homem fardado em Itapuã. Há quantos anos esse maníaco estava colaborando ou liderando o aniquilamento de tantos povos?

 Morgana era irritante. Inteligente de um jeito irritante. Bonita de um jeito irritante. E confusa. Quanto mais ele sabia sobre a garota menos ele a entendia. Ela era rica e evidentemente mimada, ela nunca deve ter passado por bullying ou abuso pois o nome da família dela era o suficiente para silenciar ou acabar com qualquer um. Ainda assim, ela insistia em participar de revoluções onde ela não havia voz de fala. Ela era de clubes contra xenofobia, mesmo ela não sendo imigrante, contra racismo, mesmo ela sendo branca, contra homofobia, mesmo ela sendo... isso Pedro não sabia.

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