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Capítulo 4

Capítulo 4: Revelação

Quinta-feira, 14 de outubro de 2023, 7:40 h.

– Hmmm... – dei umas piscadas antes de abrir os olhos, me espreguiçando. Estava deitado no chão, sozinho – Que horas são... – sentei, ainda sonolento, e esfreguei os olhos, bocejando ao mesmo tempo que esticava os braços para voltar a mim. Olhei para o despertador, uma faca estava atravessada no meio dele – Hum?.. O que aconteceu? – levantei e fui até a escrivaninha do computador, onde peguei meu celular para ver as horas – Sete e quarenta... – meus olhos abriram de vez – SETE E QUARENTA?!! – voltei a olhar para o despertador assassinado – O QUE HOUVE COM MEU DESPERTADOR?!

Roku surgiu ao meu lado.

– Pare de gritar, é cedo. Fiquei acordado a noite toda te protegendo, não seja mal agradecido.

– Roku!! – Gritei apontando para ao despertador.

– Ah, essa caixa barulhenta começou a tocar, então dei um jeito nisso.

– Aaah droga! Hoje é o último dia para organizar o trabalho! A Pirsla vai ficar furiosa! – Já me veio a cabeça a imagem do monstro Pirsla batendo com uma régua na mão enquanto me olha de forma assustadora.

– Fica tranquilo Ty, a Suski disse que tu pode entrar no segundo período.

– Suski... Onde ela está?! – Indaguei enquanto corria de um lado para o outro, me arrumando.

– Já foi.

– Saco! Saco! Saco! Saco de assombração!! – Fui ao banheiro, lavei o rosto e escovei os dentes.

– Não quer dormir mais um pouco? Hoje está um dia bom para ficar em casa descansando.

– Fica quieto! – Sai correndo de casa. Roku ficou me acompanhando com cara de cansado.

8:30 h.

Entrei na sala quando tocou o sinal anunciado o segundo período.

– Senhor Lavinier, chegando atrasado? Aconteceu algo? – Perguntou o professor em frente ao quadro.

– Não senhor, apenas perdi a hora.

– Sente-se com seu grupo então, estamos decidindo a ordem de apresentação dos trabalhos amanhã.

Concordei com a cabeça e sentei com meu grupo. Raquel e Charlote me cumprimentaram com um aceno, enquanto Pirsla ficou fazendo gestos dizendo que esmagaria minha cabeça pelo atraso.

9:40 h.

No intervalo, fui para o refeitório com meu grupo, onde novamente tive que pagar um lanche do bar para todas elas. Compensação por ter chegado atrasado, segundo Pirsla.

Sentamos na mesa do fundo.

– … Então ele usou o jutsu novo que ele aprendeu, concentrando o chakra na mão, e derrotou o ninja que diziam ser invencível! Foi demais! – Raquel falava sobre o episódio da semana de um anime de ninjas.

Olhei de canto para o lado, Roku voltou a ficar alerta e sério. Respirei fundo para mandar minha preocupação embora.

– E você Ty, que tipo de anime você gosta? – Perguntou Myoto, que apesar de não ser do nosso grupo, estava sempre conosco.

– Eu gosto de anime medieval e de realidade virtual.

– Belas escolhas. – Disse Charlote concordando comigo antes de dar uma mordida em seu sanduíche natural de frango.

As mesas da cantina eram brancas e redondas, tendo lugar para seis pessoas, mas o pessoal sempre puxava cadeiras de outras mesas para sentarem juntos, e foi o que um garoto fez, causando um som arrepiando ao arrastar a cadeira invés de levantá-la. Nisso eu vi Suski sentada a duas mesas ao lado, sozinha.

– Com licença. – Me levantei e fui até a mesa de Suski, sentando ao lado dela.

De início ela se assustou, mas logo sorriu.

– Você veio. Achei que ficaria dormindo.

– Não. Meu despertador sofreu um... Acidente.

– Quando eu sai, seu colega de quarto parecia bem perturbado por causa do despertador. Ele disse que hoje vocês iriam sair e talvez você não viesse a aula.

– Meu colega de quarto? – Estranhei.

– Eu bati em sua mão enquanto dormia. Ela não nos deixaria dormir se tivesse ficado. – Confessou Roku.

– Roku...

– O quê? – Estranhou Suski.

– Nada não. – dei uma risadinha sem jeito – Mas então...

Ela corou.

– Sobre ontem a noite...

Meu sangue gelou de medo dela dizer que a noite passado foi um erro.

– Ontem a noite..?

Mas ela sorriu para mim de forma meiga.

– Foi incrível.

– Ty. – olhei para o lado. Kiria passou por mim e jogou um bilhetinho sobre a mesa – Leia atentamente. – Ela não parou, seguiu andando.

– O que será... – olhei para Suski, ela estava com os olhos vidrados em mim, como se fosse me explodir com o olhar. Entendi o porquê – Hum? – olhei para o bilhete, então olhei para ela novamente – Não é nada disso que você está pensando!

– Vou pegar um suco para mim. Com licença. – Ela levantou furiosa, indo para o lado oposto do bar, mesmo seu suco na mesa estando pela metade ainda.

– Saco! – Peguei o bilhete e o amassei sem ler, jogando-o fora. Sai do refeitório e fui até o pátio, onde dormi um pouco, deitado embaixo da árvore.

10:40 h.

A diretora surgiu na porta da sala.

– Licença professor, desculpe interromper sua aula.

– Tudo bem diretora. – Ele parou a aula.

– Senhor Lavinier, me acompanhe por favor. Seu responsável veio lhe buscar para sair mais cedo.

– Meu responsável? – levantei, arrumei meu material e fui até a metade da sala, de onde consegui avistar o tal responsável – Você... – era o mesmo homem que eu havia visto na parada de ônibus e disse que eu morreria – E-eu não quero sair mais cedo, tenho que ajudar minhas colegas com o trabalho! – Voltei para meu lugar.

– Senhor Lavinier! – Esbravejou a diretora.

– Tudo bem, tudo bem. Se ele quer ficar, está tudo bem. – Disse o homem, sorrindo tranquilamente.

– Se o senhor está dizendo. – ela olhou para o professor – Obrigada professor, boa aula. – Ela saiu e fechou a porta, mas antes que pudesse fechar totalmente, pude ver Kiria junto ao homem estranho. Ela parecia nervosa.

– Quem era, Ty? – Pirsla se esticou sobre a mesa em minha direção – Pensei que você morasse sozinho.

– Mas eu moro...

Charlote levou as mãos ao rosto.

– Oh meu deus! Tentaram lhe sequestrar?!

Myoto veio até mim e me abraçou.

– Tadinho do Ty!

Eu a afastei.

– Não é nada disso! Ele é apenas... Um conhecido.

Raquel bateu palmas duas vezes.

– Certo, certo. Vamos focar no trabalho, hoje é o último dia. – Todos concordamos e ficamos o resto da aula focados no trabalho, terminando-o no último minuto.

12:26 h.

Sai do elevador do meu prédio e fui até a porta do meu apartamento, mas parei antes de abri-la. Havia um bilhete pendurado, preso por uma adaga cravada na porta.

– “Encontre seu destino onde o céu é visível neste prédio, ou sua amiga morrerá”. – Uma mancha de sangue estava no final do bilhete.

– Me parece uma armadilha, Ty. Acho melhor não... – sai correndo para subir até o terraço – Ty!!

– Aguenta Kiria! Estou chegando! Aquele maldito! Ele queria que eu fosse com ele para lutar. Agora tá usando Kiria como isca... Maldito!!

Ao chegar no terraço, exausto por ter subido as escadas correndo, avistei um homem alto, robusto, vestindo uma armadura de metal. Suski estava de joelhos ao seu lado, com uma espada longa encostada em seu pescoço.

– Sabia que viria. – Disse o homem com sua voz grossa e pesada.

– Suski? – cerrei os punhos – Solte a Suski!

– Quer que eu a liberte?

– Sim!

– Como quiser. – Ele passou a espada no pescoço de Suski, a degolando, deixando-a cair de lado com os pés e mãos amarrados.

– SUSKIII!!! Roku!!

– Sim! – Tocamos as pontas dos dedos. Eu e Roku investimos juntos contra o guerreiro a nossa frente.

– Ha! Sem uma arma? Brincadeira de criança! – O assassino de Suski girou sua espada da esquerda para a direta.

Roku pulou por cima da arma, apoiando a ponta dos dedos na lateral da espada, evitando a lâmina, e desferiu um chute na lateral da cabeça do homem, que tonteou para o lado. Eu corri até Suski.

– Suski! – o sangue dela começou a virar pequenos pontos dourados e brilhantes, que começaram a sair de todo seu corpo – O que é isso...

– Eu a libertei! Esse espírito estava atormentado, preso neste mundo! – disse o guerreiro, logo apontando para Roku – Assim como este! Vocês invocadores são seres malignos que interrompem o descanso dos mortos!! São a escória que tiram proveito das almas que encontraram a paz ao deixarem este mundo podre!!

– Suski... – Acariciei o rosto dela.

– Ty... Poderia me dar um último beijo?

– Suski... – eu a beijei, afastando meu rosto em seguida ao sentir as lágrimas dela escorrendo – Suski, você ficará bem. Eu vou...

– Ty... Por não dizer nada... Sinto muito por enganá-lo.

– Suski, do que está falando? – olhei para o pescoço dela, seu interior era como se fosse feito de uma energia dourada – O que é isso? Não estou entendendo!

Ela pousou a mão em meu rosto.

– Ty... Eu te amo... Então... Fuja... Não pense em morrer! – Ela começou a chorar.

Minhas lágrimas também começaram a cair sobre o rosto dela.

– Suski... – ela desapareceu em uma explosão de pontos brilhantes. Eu fiquei em choque, com minhas mãos paralisadas como se ainda a segurasse – Suski... SUSKI!!!

– Pare de cena rapaz! Ela finalmente descansará em paz! Eu apenas a libertei do controle de um invocador nojento igual a você! – ele apontou para Roku com a espada – Assim como libertarei este espírito do seu controle!

– Maldito!! Eu não estou sendo controlado pelo Ty!! – Roku avançou contra o guerreiro.

Ele lutava sem arma, o que lhe deixava na desvantagem.

– Você matou a Suski... – me levantei – EU VOU TE MATAR!!! – Corri contra o assassino da primeira garota que realmente se aproximou de mim.

– Ty!! – Gritou Roku quando a espada veio em minha direção.

– Morra, invocador!

– Pela Suski! Eu não vou morrer!!

– O que é isso? – Roku olhou para o meu corpo, que começou a esfumaçar, uma fumaça de cor negra.

Eu me abaixei, esquivando do ataque do inimigo e fiquei frente a frente com ele.

– SUSKIII!!! – A fumaça negra rodeou meu braço e então atravessei a armadura do guerreiro com minha mão, atravessando-a em seu peito.

– Que karma terrível... A última vez que senti um karma tão sombrio... – o guerreiro falava com dificuldade, sangue escorria de sua boca enquanto minha mão permanecia atravessada em seu corpo – Vejo que ainda sobraram pessoas da família Akamura... – Ele caiu por cima de mim, já morto, me derrubando.

Começou a chover. Fiquei estirado no chão, exausto, com o corpo do guerreiro em cima de mim me sujando de sangue. Foi então que ouvi som de palmas. Roku voltou ao normal, ficando a minha frente para me proteger contra o estranho, mas ele também estava exausto.

– Fique longe dele! – Roku tinha um olhar assustador, até mesmo para mim. Seus olhos vermelhos eram como percursores da própria morte.

– Parabéns. Não achei que conseguiriam sincronizar um ataque de nível avançado sem nenhum treinamento. Qual é mesmo seu sobrenome, garoto? Akamura? – o estranho se aproximou de mim. Quando Roku foi impedi-lo, uma mulher de longos cabelos negros encostou uma katana fantasmagórica no pescoço dele, impedindo-o de tomar qualquer atitude.

O homem pousou a mão nas costas do guerreiro morto.

– Se fizer algum mal ao Ty, vai se ver comigo! – Gritou Roku, mas a mulher pressionou ainda mais a katana em seu pescoço.

– Sempre que derrotar um templário, livre-se do corpo dele. – A palma da mão do estranho, pousada nas costas do guerreiro, brilhou, fazendo o enorme guerreiro desaparecer, sendo tomado rapidamente por um fogo azul.

– Roku... – Virei a cabeça para o lado.

– Estou aqui.

Vi a mulher de cabelos longos, tão longos que quase tocavam seus pés, com a espada rendendo Roku, então olhei para o estranho. Era o mesmo que tentou me tirar mais cedo da escola, o mesmo que me alertou sobre minha morte. Acho que entendi do que ele estava falando.

– Vamos ver... – ele se agachou e pousou dois dedos no lado do meu pescoço – Hum, você está bem. É só exaustão mesmo.

– Você...

Ele levantou e acendeu um cigarro, mas sem sucesso por causa da chuva.

– Tomoe! – A mulher desapareceu da frente de Roku e apareceu em frente ao homem, com a espada guardada, ela juntou as mãos para proteger o cigarro da chuva enquanto ele o acendia com sucesso.

Roku se ajoelhou ao meu lado.

– Ty, está bem?

– Que espírito guardião meia boca que tu é em? Não tem nem uma katana como ela. – ele me deu um soco no estômago – Aw! Doeu!

– Quer que eu continue mostrando o estrago que posso fazer mesmo sem uma katana? Seu maldito!! – Ficamos nos encarando por um tempo, começando a rir juntos.

– Que dupla estranha. – O homem saiu andando, partindo.

Roku deitou ao meu lado, deixando a chuva banhar nossos corpos.

– Você está chorando? – Indagou Roku ao olhar para o lado.

– Não... É a chuva. – A imagem do sorriso de Suski não saia de minha mente, tinha vontade de gritar, mas minha garganta parecia estar com um nó. Eu fui o causador de sua morte, e isso é algo pelo qual nunca vou me perdoar.

19:42 h.

Quando a chuva parou, sai do terraço e fui até o apartamento onde Suski dizia morar. Bati várias vezes, mas não houve resposta.

– Deixa comigo. – Roku atravessou a porta e a destrancou. Quando voltou, estava com cara de surpreso.

– O que houve?

– Ty, tem certeza que quer entrar ai? Talvez seja demais para você assimilar em um dia.

– Tenho. – abri a porta e entrei, não vi ninguém, até que ouvi o som de guitarra vindo de um quarto. Fui andando pelo apartamento escuro com as janelas fechadas, até chegar ao quarto, onde encontrei um rosto conhecido sentado na cama, tocando guitarra, claramente triste – Você...

A garota de cabelos castanhos me olhou.

– Então finalmente descobriu a verdade. Desculpe ter mentido para você.

– Charlote... Você é uma...

– Invocadora? Sim. Ou era até meu espírito guardião ser derrotado.

– Mas... Por quê?

– Suski me disse o que estava acontecendo, mas não tive coragem de dizer para ela parar. Nunca tinha a visto tão feliz.

– Quem era Suski de verdade?

– Minha irmã mais velha... Ela morreu a cinco anos atrás, mas para mim foi muito difícil... Foi então que encontrei um livro antigo do meu avô, que morou neste apartamento, e descobri tudo sobre invocadores.

– Você sempre foi uma..?

– Minha família já teve invocadores, meu avô havia sido um, o que explica sua morte misteriosa.

– E seus pais? – Talvez sejam perguntas demais, mas eu preciso saber.

– Comecei a invocar espíritos, o que fez meus pais partirem, pois meu pai tinha trauma pelo que passou com meu avô, me deixando aqui, enquanto se mudaram para outro país, apenas me enviando dinheiro pra eu sobreviver. Até que um dia tomei coragem e tentei invocar o espírito de minha irmã, que respondeu. Eu fiquei muito feliz, mas ela ficou confusa, não sabia que tinha morrido. Conversamos muito sobre o que fazer, mas ela escolheu ter uma vida normal, então consegui criar um amuleto que me permitia guardar uma parte dela comigo, permitindo que eu a fornecesse karma constantemente, o que era uma quantidade pequena já que ela não lutava e nem usava nenhum poder ou seja lá o que os espíritos guardiões façam. Quando o amuleto quebrou... – ela olhou para o chão, onde o amuleto estava em pedaços. Ela continuava passando os dedos pelas cordas da guitarra – Percebi que havia chegado o fim. Não há como trazer de volta o que a terra já tomou. – ela começou a chorar – Irmã, eu fui uma idiota. – Charlote largou a guitarra e tapou o rosto com as mãos, chorando soluçando, em desespero.

Sentei ao lado dela e a abracei.

– Eu te entendo. Eu provavelmente teria feito o mesmo quando meus pais morreram se eu tivesse achado um livro que dizia trazer as pessoas de volta.

– Desculpa, Tyson! Eu queria te contar! Mas... Ela estava tão feliz! – Explicou ela aos berros, sem parar de chorar.

– Ty. – Roku sussurrou no meu ouvido.

– Eu sei. – Senti um calafrio, era a presença de outro invocador e não era por causa de Charlote.

– Veja. – Roku apontou pela janela do quarto, a única que estava aberta.

Me levantei e fui até a janela. Roku apontou para o prédio do outro lado da rua, ao lado da praça, banhados pela luz da lua que estava em um tom vermelho, mas o que chamou a minha atenção foi um homem de preto no topo do prédio. Dava para ver claramente uma katana em suas mãos.

– Temos que dormir preparados essa noite… – Sussurrei.

– Sim. – Concordou Roku.

– Tyson. – Charlote levantou – Como encontrou este espírito? Ele me dá calafrios. Sinto uma aura assassina em torno dele. Espíritos assim não fazem pactos com nós sem querer algo em troca. Você vendeu sua alma ou a de outra pessoa, não é mesmo? Prender espíritos malignos como esse é perigoso, segundo o livro do meu avô.

– Não. Roku e eu estamos no mesmo barco. Queremos nos livrar um do outro, para isso precisamos...

– Se tornar o Rei de Eternia.

– Sim...

Ela secou o rosto com as mangas da blusa.

– Em memória de minha irmã, permita-me lhe ajudar. Não sou boa em batalha, mas pesquiso e pratíco ocultismo há anos, posso lhe ajudar de alguma forma, tenho certeza!

– Aceito. Pela Suski. – Apertamos as mãos, selando nossa parceria. Já era a segunda vez que via alguém morrer, mas dessa vez eu fui o causador. Acho que está na hora de conversar com Kiria sobre receber treinamento. Se estou em uma guerra, vou parar de apenas me defender, e começarei a atacar.

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