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Capítulo 7
Capítulo 7: Irmãos Muray
Domingo, 17 de outubro de 2023, 12:59 h.
– Ty... Ty... – Acordei com Roku me cutucando.
– O que foi?.. – Virei para o outro lado, tentando voltar a dormir.
– Alguém está vindo e parece que não é para dar bom dia.
– E o que quer que faça? – Sentei na cama, sonolento.
– Pode fugir ou lutar, a escolha é sua.
– Eu...
– Ty! – Um ser todo de preto pulou pela janela do meu quarto, lançando duas kunais contra mim. Por sorte errou, pegando as duas em meio minhas pernas.
– Ai, merda! – Levantei rapidamente, mas o ser de preto me fechou. Consegui dar uma boa olhada, era uma mulher ninja. Seu cabelo era branco como o de Roku, mas seus olhos tinham uma cor dourada brilhante.
– Não dificulte as coisas. Fique quieto e lhe matarei de forma indolor! – Ela puxou mais duas kunais de seu cinto.
Fiquei sério.
– Não tem jeito, vou ter que revelar minha arte ninja proibida! – Comecei a formar selos com as mãos.
– Arte ninja proibida? – Ela ficou claramente curiosa.
– Sinta minha arte ninja!
Ela se preparou.
– Parece que vai ficar divertido!
– Arte ninja! Liberar! – Gritei. Roku a acertou com uma cadeira na cabeça pelas costas, deixando-a inconsciente no chão.
– Ha! Ninja idiota, foi distraída por um fracote que nem o Ty!
– Boa Roku! Vamos dar o fora agora! – Sai correndo até a sala, mas a porta do meu apartamento foi posta a baixo antes que eu pudesse fugir.
– Te achei. – Era o homem de sobretudo preto que eu havia visto no topo do prédio em frente ao meu, na noite de quinta.
– Ferrou!
– Sai da frente!! – Roku se materializou e avançou contra o homem, que desferiu um ataque com sua katana, fazendo Roku recuar.
– Sinto meu karma ainda sendo compartilhado, mas não vejo meu guardião. O que fizeram com ela?
– Ela...
– Gaah! – A lâmina de uma katana surgiu no peito do homem.
– Será algum ataque especial? – Indaguei confuso.
O homem caiu morto, revelando Yuen atrás dele.
– Fraco. – Yuen estava com um olhar macabro.
Olhei rumo ao meu quarto quando um clarão veio dele.
– O espírito dele... morreu? – Perguntei, apreensivo.
– Não, apenas voltou para seu descanso. – Respondeu Yuen.
– Mas a Kiria disse que se o invocador morrer, o espírito desaparece para sempre...
– Desaparece deste plano, ele não pode mais ser invocado e nem reencarnar. Ficará para sempre no que chamam de “descanso eterno”. Bem, para tal espírito realmente será eterno.
– Reencarnar? – Fiquei curioso.
– Sim. Sempre que um novo Rei de Eternia surge, todos os mortos reencarnam, menos os espíritos na condição que acabei de citar.
– Que assustador...
Roku me cutucou.
– Ty, está esquecendo uma pequena coisinha...
– Hum?
– TEM UM MALDITO CORPO NA SUA PORTA, VOCÊ QUASE FOI MORTO POR UMA NINJA IMBECIL E PORQUE ESSE MALDITO ESTÁ AQUI?!!
– Wooh! Verdade!!
Yuen voltou a sua expressão tranquila.
– Explico tudo enquanto tomamos algo, o que acha? Tem um lugar perto daqui.
– Não tenho muita escolha. – fui até a porta – Licença.
– Oh, sim, desculpa. – Ele saiu de cima da beirada da porta caída.
A coloquei no lugar da melhor forma possível, mas teria que mandar concertar. Em seguida acompanhei Yuen até uma cafeteria a duas quadras do meu prédio, onde eu não queria ficar sozinho novamente.
13:20 h.
– Então, explique. – Estávamos sentados de frente um para o outro. Ele tomava café com creme enquanto eu havia pedido um achocolatado com chantilly. Haviam poucas pessoas na cafeteria.
Ele sorriu e fez um aceno com a cabeça.
– Primeiramente, permita-me me desculpar.
– Pelo quê?
De forma séria, ele escorou os cotovelos na mesa e juntou as mãos em frente a boca.
– Aquele homem era conhecido como Corvo, um invocador extremamente perigoso que matou dois de meus companheiros. Eu estrava atrás dele a tempos, até que o vi próximo a sua casa. Cheguei a conclusão que ele estava lhe procurando, tentando sentir seu karma, então tudo que tive que fazer foi tirar você de casa e fazer se juntar com Kiria, deixando o karma no ar ainda mais pesado por dois invocadores estarem muito próximos um do outro.
– ME USOU DE ISCA?! EU PODIA TER MORRIDO!! – Me levantei furioso.
– Ty... Público... – Alertou Roku.
Olhei em volta, as pessoas ficaram me olhando, então sentei novamente.
– Só quero deixar bem claro que tu que vai pagar o conserto da minha porta.
– Eu estou lhe fazendo um favor cuidando de você, já que fez o favor de atrair todos os invocadores do país para cá.
– Como assim?!
– Vou ser mais claro. Um grupo de valentões da sua escola, morto a noite no cemitério, saiu em todos os jornais e até mesmo na televisão, já que os jovens estavam sem o coração, porém nenhum corte de remoção no corpo. Qualquer invocador perceberia que isso é obra de um espírito, ligando os pontos até você.
– Como?!
– Falando com testemunhas, analisando local que as vítimas frequentavam, investigando se haviam inimigos, reconstituindo as atividades dos últimos dias de vida. Existem invocadores que, diferente da maioria que fica vivendo suas vidas e lutando apenas quando desafiados, gostam de caçar e matar todo e qualquer invocador de forma rápida, não dando chance de reação.
– Saco... Sabia que cedo ou tarde aquilo me traria problemas...
– Não se preocupe. A pedido da família a qual sirvo, estou lhe protegendo, mas acho que está na hora de aprender a andar com as próprias pernas. Não sou um espírito guardião, não estarei sempre por perto.
– Espera ai um pouquinho. Me protegendo a pedido da família a qual serve? Como assim?
– Eu sou um servo da família de invocadores Muray. Estou obedecendo as ordens do atual chefe da família, o irmão mais velho de Kiria, Haru.
– Irmão mais velho?
– Sim. A família Muray atualmente se resume a apenas três membros neste estado. Haru, Ichihiro que é o irmão do meio e Kiria. Deveria agradecê-la, pois foi ela quem insistiu muito para seu irmão enviar alguém para lhe proteger enquanto você não consegue fazê-lo por si próprio.
– Kiria... – Me peguei pensando no que ela havia me dito.
“Você entrou em uma guerra onde é matar ou morrer. Se tiver misericórdia de seu inimigo, morrerá.”
Ela me disse diversas vezes de forma indireta que somos inimigos por causa dessa batalha entre invocadores... O que será que ela está pensando?
– Senhor Lavinier? – Yuen me encarava com seu jeito tranquilo de volta, bebendo seu café que havia esfriado um pouco.
– Hum? Ah, desculpe. Estava apenas processando tanta informação.
– Compreensível.
– Então... Você é meio que meu guarda-costas?
– Não mais. Seus feitos contra o templário e contra o espírito transformado, chegaram aos ouvidos de Haru. Como você é um invocador que não pertence a família alguma, já que não se tem registros sobre invocadores na família Lavinier, meu senhor está dispostos a abrir as portas de sua casa e lhe oferecer treinamento apropriado. Até porque, é o segundo espírito guardião que é derrotado em seu prédio, e sempre que a explosão de karma do espírito derrotado acontece ao desaparecer, é como um sinal de fumaça para os outros invocadores. Certamente aquele lugar será alvo de muitas investigações.
– Posso lhe falar uma coisa que promete não contar para ninguém? – Eu o encarava ainda indeciso se podia ou não confiar nele.
– Tem minha palavra.
– Há outra invocadora no meu prédio, ela...
– A senhorita Charlote.
– Você já sabe?!
– Eu estava lá quando o espírito guardião dela foi derrotado, esqueceu?
Lembrei da batalha contra o guerreiro de armadura no terraço do meu prédio.
– Você sabia o tempo todo que Suski era um fantasma?
– Você não? Em todo caso, a senhorita Charlote não corre perigo, seu guardião já foi derrotado, o que a tira de campo.
– Certo... – olhei para o lado, Roku não parava de encarar Yuen em silêncio – O que você acha? – Perguntei a ele.
– Acho que essa que está com ele, é uma assassina tão fria quanto a lâmina da espada de seu invocador.
– Hum? – Olhei para Yuen, confuso.
– Fala de Tomoe? – Yuen deu uma risadinha – Que triste, porque ela estava me dizendo que gostou de você... Roku, certo?
Estranhei ele dizer que seu espírito estava conversando com ele.
– Como ela estava falando contigo se não ouvi nada?
– Com o tempo você aprende a não só ocultar seu espírito guardião dos olhos dos outros, mas também a voz de seus ouvidos. Em resumo, apenas eu posso ver e ouvir Tomoe, a menos que eu permita que os outros o façam. E não, ela não era uma assassina, era uma samurai, uma princesa guerreira.
– Roku consegue vê-la? – Olhei para minha assombração.
Yuen fez o mesmo.
– Verdade. Nesse momento era para Tomoe estar invisível, como consegue vê-la?
– Não consigo, apenas sinto seu karma sombrio.
Yuen riu descontraído.
– Me pegou nessa. Não consigo ocultar o karma dela ainda. Mas ainda assim está de parabéns, é preciso muito treinamento para conseguir sentir antes de ver. Isso me diz que você era um espião ou um assassino em vida, estou certo, Roku?
– Não é da sua conta. – Respondeu meu fantasma como sempre ignorante.
Ri sem perceber, achando graça do jeito de Roku. Yuen voltou a me fitar.
– Então senhor Lavinier, qual a sua resposta? Aceita ser treinado por um dos maiores invocadores do mundo?
Olhei para Roku, mas ele desviou o olhar, então voltei a fitar Yuen.
– Eu sou fraco, o que acaba limitando bastante o potencial de Roku... Eu aceito.
– Ótimo. Vou levá-lo imediatamente a mansão Muray.
– Espera ai! Preciso ir em casa pegar minhas coisas.
– Não se preocupe, eu pegarei tudo para você mais tarde.
Olhei novamente para Roku, ele parecia apreensivo, então voltei a encarar Yuen.
– Ok, vamos.
Yuen fez uma ligação e em poucos minutos um carro veio nos buscar, nos levando para fora da cidade, em um lugar isolado cercado por árvores e montes, tendo apenas uma mansão no meio do nada.
– Bem-vindo a mansão Muray. Por favor, não se afaste de mim. – Instruiu Yuen enquanto eu descia do carro.
– Waa! Que enorme! – Era realmente uma enorme mansão.
– Venha.
O local era cercado por muro, mas a mansão era tão grande que dava para ver mais da metade dela por cima dele. O pátio da frente também era grandioso, com um belo jardim.
– O karma aqui é bem poderoso. – Comentou Roku ao meu lado.
Entramos na casa, onde um jovem parecido com Roku, cabelo branco e o olho direito vermelho, veio em nossa direção de forma bem tranquila, tomando alguma bebida, de canudinho. Ele parou a nossa frente, me encarando.
– Senhor Oshwa... – Yuen ficou claramente nervoso na presença do estranho que parou a minha frente.
– Fraco. – Disse o estranho, me encarando nos olhos.
– Eu não estaria aqui se fosse forte. – Me segurei para não xingá-lo.
– Tem potencial. – Ele desapareceu no ar.
– E-ele era um fantasma?!
– Sim. Você acabou de conhecer o senhor Oshwa, o espírito guardião do senhor Ichihiro. – Yuen pousou a mão em minhas costas – Vamos andando.
Fomos até uma pequena capela no fundo da casa.
– Uma capela?
Yuen fez sinal para eu ficar em silêncio e esperar, então abriu a porta e entrou.
– Meu senhor, trouxe o jovem como solicitado.
– Deixe que entre.
– Sim senhor. – Yuen veio até mim e sorriu, acenando com a cabeça para eu entrar.
Havia um homem de cabelos negros e olhos azuis, que mesmo estando dentro de uma capela, estava fumando. Ao seu lado estava outro espírito parecido com Roku, cabelos brancos e olhos vermelhos, ele segurava uma katana e me olhava de modo desconfiado.
– Você deve ser o tal invocador novato que minha irmã tanto fala. – Reparei que os dois usavam a roupa combinando, toda preta com detalhes dourados.
– Sim... – falei meio sem jeito. Yuen me olhou de canto – … Senhor. – Acrescentei.
– Deafh vai fazer um pequeno teste, fique tranquilo. – Ele olhou para seu espírito e acenou com a cabeça, dando permissão para ele fazer algo.
Mesmo ele me dizendo para ficar tranquilo, meu corpo todo tremia de medo daqueles olhos vermelhos que se aproximavam de mim. O espírito colocou a mão direita sobre minha testa e dois dedos da esquerda entre seus olhos. Foi eu piscar, e ele já começou a se afastar.
– Difícil dizer, o karma deste invocador está desorganizado, não há nenhuma digital de outra família. Temos duas hipóteses com isso. Ou ele é realmente um novato, o primeiro de seu clã, ou a família para quem trabalha é habilidosa o bastante para conseguir ocultar a digital do karma.
– Entendo. – o chefe da família Muray me olhou de forma assustadora enquanto tragava o cigarro – Me decidi. – soltou a fumaça – Vou permitir que treine conosco, mas você não tem permissão de andar sozinho pela casa. Está restringido ao primeiro andar, onde todos os jovens invocadores em treinamento ficam.
– Jovens invocadores? Tem outros?
Deafh me fitou de canto.
– Você descobrirá logo.
– Ei, Ty, se apresente. – Roku sussurrou em meu ouvido.
– Mas eles já sabem quem eu sou. – Sussurrei de volta.
– É desrespeitoso não se apresentar ao encontrar alguém pela primeira vez.
– Está bem... – botei a mão no peito e baixei a cabeça – Meu nome é Tyson Lavinier, prazer em conhecê-los e obrigado por me aceitarem em sua casa.
O irmão mais velho de Kiria riu, então se levantou e veio até mim, me estendendo a mão.
– Sou Haru Muray, o prazer é meu, Tyson Lavinier. Acho que vamos nos dar bem, você não é orgulhoso e cheio de si como a maioria dos invocadores. – ele se aproximou do meu rosto – Lembre-se, ter um espírito lhe servindo, não o faz melhor do que ninguém.
Voltei a ficar reto.
– Lembrarei. – Apertamos as mãos.
Ele se virou a sentou novamente.
– Certo. Mostre a ele seu quarto, Yuen. Com isso fica sobrando lugar apenas para mais um aluno.
– Sim senhor.
– Não sei porque perder tempo treinando invocadores sem determinação de aprenderem por si só... – Resmungou Deafh.
– Está me questionando, Deafh? – Haru lançou um olhar de canto para seu espírito, que eu ficaria petrificado se fosse para mim.
– Fui precipitado em minhas palavras, desculpe. – Disse o espírito em um aceno rápido de cabeça.
Yuen fez sinal com a mão discretamente para eu ir saindo.
– Com licença meu senhor, já vamos indo. – Ele saiu rapidamente quando Haru concordou com a cabeça.
Quando ele fechou a porta, deixei minha curiosidade aflorar.
– Yuen, o que foi aquilo que o espírito do Haru fez?
– Verificou se você não é espião ou assassino de outra família.
– Por que os espíritos dos irmãos Muray são parecidos com Roku?
– Bem, é meio complicado, mas vou simplificar. Oshwa era um filho bastardo de um grande imperador do passado. Dizem que ele fez um pacto com um deus bárbaro antigo para matar seu pai que o rejeitou, sendo possuído por este deus. Deafh não é diferente, ele praticava magia negra em cadáveres, mas acidentalmente acabou invocando um guardião das almas, que surgiu para puni-lo. Mas o guardião subestimou a magia de Deafh, sendo derrotado e devorado. Sim, Deafh devorou toda a força astral de um guardião dos mortos, passando a ser considerado um demônio pelos outros elementais, como eram chamados os invocadores antigamente, sendo morto pelos mesmos.
Permaneci fitando-o, que seguia andando um passo à frente, confuso.
– Não entendi.
– Ty, você é muito devagar. Ele está querendo dizer que a semelhança entre ambos é que ambos foram possuídos mas seus karmas foram fortes o bastante para subjugar o espírito e dominá-lo. – Explicou Roku.
– Oh! Agora entendi. Como você pelo deus lo... – Roku me tapou a boca.
– Tem certas coisas que devem ficar entre nós!
Concordei com a cabeça, então ele me soltou.
– Desculpa, desculpa. Sou descuidado com as palavras.
Yuen parou.
– Chegamos. Este será seu quarto. – Ele abriu a porta fazendo um símbolo com o dedo no centro dela.
Ao entrar no quarto, me espantei por ser quase do tamanho do meu apartamento inteiro, tendo banheiro próprio.
– Que demais...
– Faça um símbolo mágico próprio na porta para usar como tranca. Como hoje é seu primeiro dia, você não poderá sair do quarto até terminar de ler os três livros teóricos sobre karma.
– Só três livros? Fácil!
– Eles estão em cima da escrivaninha.
Olhei para os livros que ele falou, perdendo o ar por um instante.
– Ta de sacanagem... Deve ter umas mil páginas cada um! Não sei nem como não quebraram a escrivaninha! – Os livros eram enormes.
Yuen riu achando graça.
– Não se preocupe, a grande maioria das páginas são ilustrações de símbolos mágicos e suas etapas. Tenho certeza que terminará logo. Leia na ordem que está.
– E lá se vai o meu domingo...
– Bom estudo. – Yuen saiu, fechando a porta.
– Saco... Onde foi que vim parar...
– Ânimo Ty! Ao menos ficará mais forte e não precisará mais depender de ninguém que nem veio fazendo até agora!
Lancei um olhar macabro para Roku.
– O que quer dizer com isso?!
– Ty... Você está assustador.
Depois de dar um peteleco na testa de Roku, decidi que não tinha jeito e cai de cara no primeiro livro, o qual para meu espanto, terminei de ler no mesmo dia.
22:23 h.
– Hum. Acho que assim está bom. – Terminei de fazer um símbolo próprio na porta.
– O que vai fazer agora? – Roku estava atirado na cama.
– Fiquei o dia todo preso aqui dentro, acho que vou tomar um ar.
– Yuen disse para você sair apenas depois de ler os três, você terminou apenas o primeiro.
– Ele não vai nem perceber. – Olhei pela janela, estava uma noite chuvosa, mas ainda assim saí do quarto de mansinho, olhando para os dois lados do corredor antes de prosseguir.
– Acho que não é uma boa ideia, Ty. – Sussurrou Roku.
– Você se preocupa demais. – Me esgueirei até uma porta na parte de trás da mansão, a qual dava para o pátio dos fundos.
Sai da mansão.
– Ty, acho que até aqui já está bom, vamos voltar.
– Livre! – Sai correndo na chuva, de olhos fechados e rosto erguido, deixando as gotas levarem meu cansaço.
Quando abri os olhos e olhei para frente, vi algo preto vindo em minha direção, me acertando no meio do rosto e me fazendo cair.
– Ty! – Roku ficou ao meu lado, materializado.
– Quem são vocês?! – Quando consegui enxergar novamente, havia um homem de sobretudo preto e branco, me olhando de forma nada amigável com sua katana ainda embainhada em mãos, pronta para entrar em ação.
– Droga... – Ele tinha o cabelo comprido amarrado para trás e olhos familiares.
– Não vou perguntar novamente! – Ele desembainhou a katana.
– Ei, ei! Vocês! Parem de serem barulhentos! – Oshwa apareceu.
– Osh! Prepare para chutar esses invasores para o outro mundo!
– Calma, calma Ichihiro, esse fracote ai é o tal que seu irmão acolheu.
– O garoto da escola da Kiria?
– Sim.
Ichihiro me olhou de forma ainda não muito amigável. Forcei um sorriso.
– O-olá. – Acenei com a mão.
Ele guardou a katana.
– Se é novato, deve ser um dos bons, já que conseguiu ler e entender os três livros em um dia.
Oshwa veio até mim com sua expressão sempre neutra e estendeu a mão, me ajudando a levantar.
– Bem, é que...
– Espero que tenha realmente entendido e não apenas lido palavras. Amanhã Yuen fará um teste para ver se você captou a essência do que os livros ensinam.
– É que eu li apenas o primeiro. – Confessei em meio a um sorriso sem graça, envergonhado.
– O-ow. – Disse Oshwa.
– O-ow? – Olhei para ele sem entender.
Então tranquilamente ele apontou para seu mestre, que estava claramente furioso.
– Preguiçoso!!
– WAA!!! – Sai correndo com Ichihiro me perseguindo, me acertando algumas pancadas com a bainha de sua espada.
23:15 h.
– Boa noite, Ty. Vê se não foge de novo. – Yuen me acompanhou até o quarto após Ichihiro ter me feito pagar por alguns minutos com golpes da bainha de sua espada.
– Pode deixar. – Estava exausto e dolorido. Apaguei rapidamente, me preparando para outro dia de leitura frenética.