Capítulos (2 de 7) 12 Jun, 2023
2. O Medroso
? Carlinhos! ? chamaram e bateram palma três vezes. Lucas coçou a cabeça, sugerindo que talvez ele não estivesse em casa. Ao seu lado, a determinada loirinha de macacão azul encheu os pulmões e berrou:
? OH CARLINHOOOS!
? O co-coveiro? Vocês não tão falando sério né? ? Carlinhos perguntou, já preocupado.
? Ah Carlinhos, deixa de ser medroso vai. ? A menina deu uma leve cotovelada no moreno.
? E quando é que a gente vai comer hein? ? Indagou Bolinha, mirando na bolsa de lanches da Lili, sob os olhos verdes e fuzilantes da mesma.
? Tu acabou de comer um salgadinho. ? lembrou Carlinhos.
? E eu tenho culpa? Dividi com vocês ué. ? replicou o gordinho pouco antes de Diogo declarar com os braços cruzados: ? Eu é que não tenho medo daquele velho banguelo. Cara feia pra mim é fome!
? Então você tá desnutrido... ? provocou Lucas arqueando uma sobrancelha com um sorriso zombeteiro, enquanto Diogo já fechava os punhos para iniciar a briga.
? Ai meu Deus, lá vem...
O skate rosa de Lili logo tomava as ruas e seus cabelos dourados esvoaçando ao vento eram acompanhados de um sorriso eufórico. Logo atrás vinham os meninos com as bikes, Diogo numa preta com Bolinha subindo no bagageiro e Lucas com Carlinhos.
? Para de me agarrar Bolinha, segura na bike!
Pedaladas e algumas manobras depois...seguiram pela principal até o outro lado do bairro. Lá estava o Cemitério das Boas Almas, silencioso e com algumas árvores sinistras já a vista. O muro era baixinho, pulariam fácil e logo estariam em mãos com os frutos dos jambeiros e mangueiras sob o olhar das lápides antigas e jazigos sem manutenção. Bolinha, poupando-se do esforço de pular o muro, passou pelo portão enferrujado que estava entre aberto. Era um lugar estranho. Quieto, triste e ao mesmo tempo com alguma beleza que não saberiam dizer. Carlinhos sentiu um arrepio na espinha e benzeu-se antes de entrar. Naquela tarde de agosto, eles sequer podiam imaginar o que os aguardava naquele lugar onde os mortos repousam.