Capítulos (3 de 7) 12 Jun, 2023

3. Diogo

? É ISSO AÍ, SOU EU! ? Diogo comemorou erguendo o punho fechado logo depois que as mãos se revelaram naquele círculo. Como de costume, a decisão democrática de quem seria o pega era decidida no pedra, papel e tesoura, embora o Bolinha ainda insistisse que haviam o lagarto e Spock. Lucas cruzou os braços, Lili sorriu de canto enquanto Carlinhos parecia aliviado por não ser ele o escolhido. Já o gordinho estava convicto:


? Aquele pão de queijo vai ser meu! 


? Vai sonhando Dudu, eu não vou perder pro Diogo nem pra vocês. ? Respondeu Lucas. 


? Meninos... Não se esqueçam que eu ganhei da última vez. ? Lembrou a loirinha dando uma piscadela. 


? Você teve foi sorte Lili. Não vai chorar seu eu ganhar hein? ? Replicou Diogo.


? Oh Carlinhos, que cara é essa? Tá com medo? ? Perguntou Lucas vendo o amigo meio preocupado. 


? M-medo? Eu não, é que...


?Tá sim, ele tá com medo do Seu Epaminondas. ? Interrompeu Bolinha. 


- Reze pra ele não te enterrar vivo... ? Brincou Diogo, erguendo as mãos e mexendo os dedos em zoação ao amigo medroso que respondeu contrariado:


? Pô! Já disse que não tô com medo!


? Tá bom, tá bom! Vamo deixar de papo e começar logo que eu tô com fome. – Apontou Bolinha. 


? Bora lá! ? Concordou Lili.


O ruivo logo virou-se para a mangueira e começou a contar até trinta enquanto a turma se dispersava por entre as lápides. O cemitério era grande e cheio possíveis esconderijos, deixando a brincadeira mais desafiadora, do jeito que Diogo gostava. O ruivo era um garoto de apartamento, com vários brinquedos bacanas como carrinhos de controle remoto e até um navio que navegava sozinho quando colocado na água. O pai era advogado e a mãe psicóloga, super ocupados e sem muito tempo com ele. Todo mundo o achava um mimado que queria atenção, principalmente o Lucas que sempre foi muito competitivo. 


E mesmo convencido como era, Diogo acabou entrando no grupo depois que defendeu o Bolinha numa briga da escola, onde uns quatro babacas maiores da sexta série implicavam com o coitado só por causa da aparência. E por bem ou mal, algumas coisas só se resolviam no soco, ou melhor, no chute, pois Diogo foi chegando numa voadora quando o resto da turma se juntou a ele na hora do recreio. Todos acabaram na diretoria e com alguns olhos roxos, mas desse dia em diante ninguém mais incomodou o Bolinha. 


? 30! Prontos ou não, LÁ VOU EU! ? gritou ainda com a cabeça recostada sobre o braço no tronco da mangueira. 


Terminou a contagem, iniciando a implacável perseguição que valia além do pãozinho de queijo, sua honra como o melhor pega do grupo. Por um vacilo, a Lili ganhara da última vez e ele não podia se dar o luxo de deixar uma garota roubar seu título. Corria enquanto seus olhos atentos procuravam por qualquer coisa que entregasse a posição de alguém.

 Logo de cara notou pegadas de lama iam até depois da pequena capela, onde mais à frente ficavam os jazigos. Diogo não pensava muito na morte, afinal tinha 11 anos, mas enquanto corria pegou-se rindo enquanto divagava se no seu funeral alguém teria uma crise de riso como ele teria em momentos sérios. No entanto o sorriso no rosto desapareceu quando as pegadas chegaram ao fim e Diogo se deparou com um velho de olhar assustador segurando uma pá na mão. Petrificado pela presença do Seu Epaminondas, Diogo tremeu. O coveiro fitou-o com aqueles olhos frios e azuis. Fincou a pá na terra onde cavava uma cova e advertiu gelidamente:

? Vocês não deviam ter vindo aqui.


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