Capítulos (3 de 7) 12 Jun, 2023
5. Bolinha
— Não sei vocês, mas eu vou dar no pé daqui é agora! Cruz credo...
— Ah, mas não vai mesmo! — respondeu Lili, segurando-o pela camisa quando o moreno tentou correr. — A gente não pode deixar o Diogo na mão. Quê isso Carlinhos, tu é um homem ou um rato?
— Me solta Lili! É melhor um rato vivo que um homem morto! Eu sabia, eu sabia que era uma péssima ideia vir aqui!
— Ela tá certa, a gente precisa ajudar ele. — Lucas engoliu o orgulho com um suspiro. — O Diogo pode ser um chato as vezes, mas ainda é um dos nossos. É da Rua 13, e a gente não deixa ninguém pra trás.
Enquanto os amigos discutiam, Dudu, o Bolinha, ainda processava a informação do sumiço enquanto mastigava um batom garoto que havia guardado no bolso. Em seus momentos de ansiedade, o gordinho se refugiava nos doces, embora aquela situação fosse diferente de qualquer coisa que já tivesse acontecido com ele.
Quando se mudou pra a escola nova, era difícil se enturmar. Além de ser novato, seu sobrepeso era motivo de piada. Os meninos colocavam apelidos, as meninas se afastavam. "Ha ha! Olha só, lá vem a baleia orca!" “Parece um saco de areia andando!” “Bolota, Bolonha, Bolinha...” O último nome foi o que acabou pegando. Dudu detestava esse nome, parecia não poder fugir dele enquanto estivesse na escola.
Nas aulas de educação física era sempre o último nas corridas e tinha dificuldade nos exercícios, o que rendia mais piadas por parte dos colegas. A Lili vivia sempre emburrada e vez ou outra ia parar na diretoria pelas confusões com outras meninas, então não se falavam muito naquela época. O único a ser legal com ele tinha sido o Lucas, ambos colecionavam e trocavam figurinhas no recreio, mas o garoto ficava em outra turma junto com Carlinhos, e só voltava a vê-lo no final das aulas. Durante o finalzinho dum intervalo, que a turma acabou se conhecendo. Quando uns três moleques da sexta série pegaram o álbum de figurinhas, e jogaram-no ao fétido vaso sanitário do banheiro masculino antes da cruel descarga. Dudu foi atrás, mas era tarde demais, o livreto jazia entre a mistura de urina e fezes. Tentou reagir com raiva, porém foi empurrado e veio ao chão.
Chorou. Chorou como nunca, nem a pior pisa dos pais tinha doído tanto. Enquanto soluçava e seus algozes ainda zombavam, um ruivo chegou numa potente voadora, derrubando um deles. Logo estava anunciado o embate e com o burburinho, Lucas soube da confusão e entrou na briga. Carlinhos ajudou Dudu a se levantar e Lili veio logo em seguida, de estilingue na mão e tudo. O gordinho conseguiu devolver o empurrão com um soco. Um coro ao redor logo se formou, incentivando o tumulto. A briga durou até a diretora gritar no pátio, e aparentemente os mais novos haviam levaram a melhor. Depois da confusão, o grupo se tornou inseparável e Dudu fez de Bolinha uma alcunha de orgulho, apropriou-se do apelido como um nome de guerra. Diogo o defendeu mesmo sem conhecê-lo, e agora o ruivo havia sumido no meio daquele cemitério. Terminou de engolir o chocolate e decidido, apontou aos amigos com o indicador, pouco antes de cerrar o punho: