Capítulos (1 de 2) 08 Dec, 2024

Capítulo 1 - Oportunidades Desesperadas - PARTE 2

Cansada, Madalena não sabe se agradece pelo conselho, ou se fica ainda mais nervosa com o aviso vago de Alana. Nem um pouco de sua consciência acreditava que Alana estava preocupada com ela e talvez estivesse falando aquilo só para a fazer ficar ainda mais cansada. Porém apesar da voz rouca e deformada de Alana, Madalena consegue perceber que Suvarna realmente poderia fazer isso, tirando então de seu bolso a caneta e a segurando firme embaixo do travesseiro que recostou a cabeça, aquela noite certamente seria bem longa para ela.

A longa noite de Madalena, inicia-se depois que Gulnara retornando ao alojamento, e a jovem, fingindo dormir, pode ouvir que usariam o carro dos traficantes e que Alana usaria uma roupa balística fornecida pelo empregador, Alana recusa, mas ordens são ordens, pelas palavras da própria Gulnara. Madalena passa toda a noite sem conseguir fechar de verdade seus olhos, sempre com a impressão de que está sendo observada e mesmo com a presença de Gulnara que também estava no alojamento, sentia que a gigante Suvarna realmente a poderia tirar sua vida e colocar a culpa em algum acidente idiota, ou até nela mesma.

A noite passa, sem que Madalena receba raios de sol no rosto, em 7 horas de sono, provavelmente dormiu apenas duas horas e meia ou três no máximo. Levantando no susto, ela vê as três mercenárias diante da mesa acertando os detalhes da missão e sem saber que horas são ela apenas se levanta e vai ao banheiro. Enquanto ela se preparava para sair, Gulnara esperava por ela perto da porta.

— Senhorita Madalena, por favor, me acompanhe. Temos algo para conversar, em particular. Disse Gulnara, sem olhar para a jovem.

Assim, Madalena acompanhou Gulnara até uma sala lateral do abrigo subterrâneo. Nela havia equipamentos para treinos físicos, além de caixas com armas e outros itens. Parecia ser uma mistura de depósito e academia. Nesse momento, Gulnara tira sua vestimenta pesada. Madalena percebeu que pelo estilo daquela roupa, provavelmente ela deveria ter alguma blindagem. Gulnara estava com uma roupa muito parecida com as que Madalena usava em suas lutas profissionais, um top e um short para lutas. O físico da senhora era invejável, e Madalena pôde perceber que Gulnara tinha não só os músculos quanto as cicatrizes que demonstravam o quanto era experiente e preparada para combates. Estava claro que as duas não teriam apenas uma conversa, e Madalena, ainda sentindo dores pelo confronto com Suvarna, e apreensiva por lutar com alguém que ela verdadeiramente temia, estava tensa como nunca esteve antes.

Após colocar luvas, Gulnara entrega um par a Madalena.

— Madalena, creio que seja necessário que eu te explique melhor meus motivos para ter trazido você para este grupo. É importante que entenda seu papel e porque decidi que você era a pessoa adequada. Pode parecer confuso no momento, mas minha experiência me ajuda a reconhecer uma candidata promissora quando vejo uma.

— Fazemos parte de um grupo muito restrito. Nós vivemos às margens da sociedade, mas não confunda isso com uma ideia de fraqueza ou limitação. Nós ajudamos a delimitar como as sociedades operam, através do uso preciso do maior poder que a humanidade tem a seu dispor. Violência. Você pode fazer parte dos lobos que guiam os cordeiros para onde os líderes desejarem. Mas, como um lobo, você nunca mais estará submissa às mesmas regras. Ao entrar neste grupo, minha khüükhed, você deixará de viver como os outros. Mas, existem riscos, e se não estiver pronta para encarar esses desafios, você vai se tornar um alvo. Estará sozinha, e em um mundo de predadores, você se torna uma presa fácil. A experiência com a Senhorita Suvarna foi apenas uma pequena amostra do que está por vir, entretanto, a maneira como conseguiu mediar a situação, posso dizer que fiquei... Intrigada. E agora que já chegou até aqui, você tem dois caminhos, e só um deles tem um futuro.

Neste momento, Gulnara avança sobre Madalena com um jab de esquerda, que tinha uma velocidade surpreendente. Madalena tentou reagir, e conseguiu se esquivar, por muito pouco. A jovem estava alerta para o combate, mas não o suficiente.

— Degjin… Gulnara parecia satisfeita com a reação de Madalena, mas antes que a jovem pudesse demonstrar alguma intenção de contra atacar, a experiente lutadora já tinha conseguido recuperar seu equilíbrio, se moveu rapidamente e agarrou Madalena pelo abdômen, levantando a moça com facilidade, aplicando um suplex, jogando-a de lado no tatame, que, para sorte da lutadora, era suficientemente acolchoado com uma cobertura de lona e raspa de pneus, uma combinação que Madalena conhecia bem.

— Puñeta! Argh! Desgraç… Antes que Madalena pudesse continuar, Gulnara aplicou na moça um mata-leão pelas costas, usando suas pernas para limitar os movimentos de Madalena, sem dificuldade. Nessa situação, percebendo a força do golpe de Gulnara, Madalena bateu três vezes no braço de Gulnara, mas, para o desespero da lutadora, isso só fez com que ela aumentasse ainda mais a pressão que estava aplicando, e Madalena realmente não conseguia mais respirar. O pânico parecia se estabelecer em sua mente, mas algo a trouxe de volta à lucidez, e ela começou a buscar maneiras de se liberar. Suas tentativas foram uma a uma canceladas por Gulnara, mas a vontade de sobreviver de Madalena parecia ser a única coisa em sua mente naquele momento. Infelizmente, a falta de oxigênio estava afetando seus movimentos, e por alguns instantes, Madalena percebeu que poderia mesmo terminar seus dias naquele buraco, com sua vida completamente fora do seu controle. Isso deu a ela um último impulso, que a permitiu acertar uma cotovelada forte na região do fígado de Gulnara, e, embora isso a levou a reduzir temporariamente a pressão que aplicava sobre seu pescoço, não foi o suficiente para fazer a velha combatente soltá-la, e a pressão retornou em poucos segundos. Assim que Madalena começou a perder a consciência, Gulnara a solta de sua submissão. Enquanto a jovem parecia lutar para buscar o ar que lhe faltava, Gulnara se levantava, parecia que o esforço não a afetou, mas demonstrava ter sentido o golpe desesperado que Madalena conseguiu acertar.

— Está claro que temos um longo trabalho pela frente, mas você tem o espírito para este tipo de trabalho. Entenda, Madalena, as suas lutas, de agora em diante, não tem regras, não terão aviso, e podem acontecer em qualquer lugar. Sua vida não estará mais em segurança. Nem mesmo dentro deste grupo, a não ser que possa provar sua utilidade.

Depois de se recuperar, uma mistura de raiva e desespero tomou conta de Madalena, que caça Gulnara com o olhar. A expressão em seu rosto é a de alguém que mataria se pudesse, mas Madalena aprendeu com seu pai que era preciso controlar suas emoções nesses momentos. Ela já falhou muitas vezes, mas agora percebeu que precisava se manter calma para se manter viva.

— O que porra quer de mim, Gulnara? Você me traz pra um buraco que eu não conheço, me faz executar uns merdas e quase me sufoca. Deve ter alguma razão, imagino, ou você faz isso pra se divertir.

Com um olhar frio e preciso, Gulnara encarou Madalena, que ainda estava no chão. A jovem sentiu medo, mas não estava em condições de se render a esse sentimento. Ela precisava lutar por sua sobrevivência.

— Nikita, sempre atenta, como uma ave de rapina, consegue encontrar as melhores agulhas em qualquer palheiro. A habilidade dela em conseguir informações é valiosa. Gulnara parecia mais distraída, como se tivesse se lembrado de algo.

— Eu tinha muita confiança de que você iria obedecer minhas ordens na pista de pouso porque fui informada que já tinha passado por uma situação semelhante. Nikita adora conhecer pessoas, é um recurso valioso. Gulnara percebe que suas palavras afetaram Madalena, e decide ir até uma mesa na sala e pega uma par de facas de borracha.

— Eu sei que quando precisou executar o filho daquele criminoso, fez isso para proteger seu pai. Uma atitude nobre, mas quando executou o amigo dele para que não houvesse testemunhas, você foi prudente. Admirável, para alguém de sua idade. Quando vi a maneira como usou aquela pistola, ficou claro que não terá facilidade com armas de fogo, mas você parecia muito mais confortável com caneta, mesmo contra alguém como Suvarna, portanto, iremos focar no treino com lâminas.

Madalena, ao ouvir que seu passado estava exposto para alguém como essa mulher, além de perceber que seus passos estão sendo sempre monitorados, se sentiu completamente indefesa. Essa mulher tinha domínio sobre ela. A moça que já tinha vencido tantas lutas, parecia tão fraca.

— Você irá treinar diariamente com a senhorita Nikita de agora em diante, para que seja apta no seu papel dentro deste grupo, e quem sabe possa até conseguir algum respeito por parte das suas companheiras, pois sabemos que suas noites de sono não tem sido das mais tranquilas. Disse Gulnara, enquanto vestia seu uniforme e abria a porta da sala para que Nikita entrasse. Os olhares delas se encontraram, e logo depois, Nikita, a aparente bartender, olhou para Madalena como quem julga um item.

Nikita, mesmo com apenas um braço, sabia demonstrar ser ameaçadora. Sem gastar nenhum segundo com Madalena, ela foi até uma das mesas e pegou uma faca de borracha, e jogou para Madalena, enquanto empunhou outra.

— Me chamo Nikita. Gulnara avisou que você era boa com chutes e socos. Com seu tamanho, socos e chutes não são o suficiente para o que vai enfrentar. Nikita parecia tratar aquela situação como um treinamento rotineiro.

Madalena se levanta e experimenta o simulacro em sua mão. Parecia ter um peso similar ao de uma faca real.

— Ela quer que eu te treine no uso de facas, para aproveitar sua agilidade. Vai perceber a utilidade das lâminas, se conseguir aprender. Nikita estava pronta para começar.

Madalena tentava se posicionar como Nikita, fazia muito tempo desde que ela teve um instrutor, e nunca uma instrutora.

— Mas, você quer mesmo fazer isso com apenas um braço? É meio injusto, não acha? Madalena queria tentar se impor de alguma maneira, depois de tudo que aconteceu.

- Então, pegue leve. Madalena sentiu que Nikita tinha um senso de humor escondido. Isso lembrou ela um pouco do pai, e a deixou mais confortável. Talvez ela soubesse como lidar com ela.

Os treinamentos com Nikita foram intensos, mas os resultados eram perceptíveis. A ex-militar sabia muito bem como extrair da jovem o que ela achava necessário, e Madalena estava usando esses momentos para tentar focar em como ela poderia usar esses conhecimentos para se preservar naquele ambiente. Quando as mulheres sumiam, provavelmente em alguma missão, Madalena aproveitava para treinar seu corpo. Memórias das sessões com seu pai sempre vinham na sua mente nesses momentos. A saudade era grande, mas algo dentro dela dizia que seu pai sentiria orgulho dela ali.

Naquela noite, Madalena sonhou com ele e sua mãe. Ela não pensava muito nela, mas isso por que ela não teve muito tempo para conhecer sua mãe, que foi morta por militares em Cuba. Ao menos é o que o pai dela lhe contou.

Depois de uma noite de sono um pouco melhor, Madalena se levanta e vai ao banheiro. Depois de lavar bem o rosto e comer o resto da ração seca que havia deixado dentro de seu kit militar, ela ouviu uma comoção e retorna para o salão onde estão todas reunidas, inclusive a mulher que havia visto antes, Nikita, a barman e, de certa forma, gerente do grupo. Era curioso como uma mulher que tinha apenas um braço conseguia ser tão versátil. Madalena havia tentando conversar com ela, mas ela evitava, dizendo que não tinha tempo para ela, ao menos ainda.

Mas focando novamente nas outras mulheres, a cena parecia peculiar para Madalena. Suvarna exibia orgulhosa uma roupa escura, que, independente de seu tamanho, iria ajudá-la a se esconder em locais escuros, feito de um tecido muito flexível e aparentemente resistente. Mas o que chamou bastante a atenção realmente foi a roupa que Alana deveria usar, um grosso colete a prova de balas cheio de alforges com granadas e facas, calças com proteções em todas as articulações e uma camisa com malha balística escurecida com proteções adicionais em kevlar nos ombros, antebraços e cotovelos, Gulnara está com a mão na cabeça, exibindo cansaço por provavelmente estar horas e horas tentando convencer a mulher musculosa a usar aquela proteção.

- Ahh… vamos Alana. A armadura não vai acabar com sua “diversão”. Temos uma missão a cumprir e não quero que você corra riscos desnecessários. - Gulnara tira a mão da cabeça e ao que parece, diferente da forma que tratava Madalena fazendo uso de autoridade, contra Alana isso não funcionaria, fazendo uso agora de sua persuasão - Lembre-se que se você é quem vai correr o maior risco e se morrer agora, vai perder a oportunidade de ir em outros conflitos ainda mais perigosos. - Completa ela.

Alana - Aah Helvíti! Ok ok… eu vou usar essa porcaria! Olha só isso! - Reclama ela levantando um colete grosso e pesado. - Agora só falta você me falar que quer que use uma arma. - Completa, jogando o colete na mesa, a barman das cicatrizes olha indiferente, enquanto acerta uma bolsa cheia de explosivos para entregar a Gulnara, sem exibir qualquer emoção.

-“Não há necessidade”, soltou Gulnara com um sorriso, se dirigindo agora a Madalena, para lhe entregar suas instruções e mostrar o veículo.

Naquele longo dia, Madalena tentou evitar o máximo de contato com Suvarna e focou nas instruções de Gulnara.

Depois de explicar os detalhes relevantes, Gulnara deu ordens ao grupo.

— Vocês três podem continuar com as preparações, Nikita vai passar a vocês mais alguns detalhes e equipamentos.

Algo que lhe chamou a sua atenção, foi a ordem de que caso visse que Alana estivesse saindo de controle, ela deveria usar os meios necessários para não deixar que ela morresse, pois ela era necessária. Tal atribuição não poderia ser confiada a Suvarna, disse ela, pois sabia que as duas entrariam em um conflito desnecessário, que poderia custar a missão.

Chegado o momento da partida, Gulnara se dirige juntamente da barman até a saída do bar onde as três estavam se preparando para entrar no carro. Alana estava imponente com a armadura militar cheia de proteções nas articulações, Suvarna por outro lado com sua roupa especial, devido ao seu tamanho, não parecia nada com uma infiltradora, mas de forma curiosa, não fazia qualquer som ao andar, provavelmente porque já deveria ter tido experiência com infiltrações e assassinatos em seu currículo.

A postura das duas durante o trajeto muda um pouco, Alana está estranhamente séria apontando as direções para Madalena, que também veste uma roupa balística, menor do que a de Alana. Suvarna se mantém completamente calada durante todo o percurso. O carro no momento em que foi usado por Gulnara no dia anterior, foi modificado estando agora com os vidros escurecidos. Depois de aproximadamente 20 minutos de estrada, elas veem entre algumas casas abandonadas e em ruínas, a dita base dos rebeldes. Madalena manobra o carro e consegue entrar em uma garagem abandonada na qual Alana lhe aponta, Alana já conhecia aquele lugar pois o tinha visto com Gulnara anteriormente.

- Então, iremos fazer como combinamos? Vocês duas irão distrair os guardas, enquanto eu me encarrego de explodir os pontos. Certo? - Pergunta Suvarna saindo do carro com um sorriso no rosto.

- Eu irei ficar no carro. Esse não foi o combinado. - Responde Madalena abrindo a porta do veículo e ficando de pé ao lado. As três se entreolham e Alana vai andando até a porta da garagem, olhando para fora.

Alana - Hehehe… On aika! Vamos trabalhar… - diz Alana caminhando para fora em direção a entrada da base.

Madalena não para de encarar Suvarna que vai caminhando para fora sorrindo, também olhando para ela. As duas vão caminhando se distanciando da garagem escura, Madalena então resolve subir um pouco as ruínas, para ter um acesso melhor a visão de todo o ambiente. A base dos rebeldes então é vista por ela, parecia um acampamento militar com algumas construções camufladas e um prédio destruído que ela não conseguia ver por dentro.

Ela pode contar aproximadamente seis guardas em patrulha e talvez mais que ela não conseguiu identificar bem, por estar escuro e não estar usando ferramentas para isso, mas não era a função dela de qualquer forma. Madalena não consegue ver Suvarna também, que provavelmente já havia adentrado em alguma das construções abandonadas que circulavam o local. O prédio em ruínas que se localizava atrás do acampamento, provavelmente era o “ponto C” que Gulnara havia falado. Madalena pega um comunicador e tenta entrar em contato com suas duas parceiras.

- Vocês estão na escuta? - Pergunta ela, tentando conter o nervosismo.

- Calada idiota! - Responde imediatamente Suvarna.

- Hehe.. tá me assistindo princesa? Aproveita o show e não me atrapalha. - Ironiza Alana que já estava bem próxima dos guardas que já tem contato visual com ela.

Ao ser vista, Alana se aproxima jogando um cassetete, uma pistola e algum outro objeto no chão, Madalena não consegue ver ou ouvir bem, mas pode perceber que Alana está de braços abertos rindo alto.

Um guarda mantém Alana sob a mira de uma arma e ela permanece com as mãos pra cima. Mais outros guardas chegam e a cercam, Madalena entende algumas poucas palavras, mas parecia que Alana estava desafiando os soldados da base. Os guardas riem e olham uns para os outros.

De repente, um dos guardas que está mais próximo, circula Alana e os dois começam a lutar. Os outros vibram e gritam alto, enquanto eles partem para a briga. Alana facilmente o derrota depois de poucos golpes e solta sua gargalhada áspera e rouca, os homens gritam junto dela. O soldado derrotado no entanto, submissivamente sai como um cachorro com o rabo entre as pernas evitando contato visual com a enorme agressora.

Logo após esse, outro avança contra ela e o combate continua. O novo combatente joga o fuzil para o colega e tira um colete exibindo um físico superior ao do companheiro derrotado. Alana em tom provocativo aparenta assobiar para o homem e exibe sua língua bifurcada, todos a olham com estranheza, mas mesmo assim o combate se inicia e ambos começam a trocar golpes. Madalena tenta entender o que está acontecendo, mas Alana realmente estava cumprindo com o que havia sido determinado a fazer, toda a base estava a assistindo, aproximadamente dez homens estavam a cercando e a vendo lutar, sabendo ainda que pelo físico monstruoso de Alana, ela certamente estava ganhando tempo sem terminar o combate contendo sua agressividade e impulso pela violência.

Passados alguns minutos, finalmente ocorre a explosão. Madalena rapidamente desce de onde estava e liga o carro, o manobrando rápido para a saída, perdendo Alana de vista completamente. Poucos segundos depois Suvarna surge das ruínas próximas olhando para a entrada da base inimiga.

- Pronto, vamos embora! - Diz Suvarna em tom autoritário, ela já abrindo a porta do carro e se preparando para entrar no banco de trás do veículo.

- Mas a Alana ainda está com os soldados, eles provavelmente a cercaram com... - Tentando argumentar com Suvarna, para cumprir as ordens dadas por Gulnara de que ninguém ficaria pra trás, Suvarna imediatamente interrompe Madalena.

- Escuta aqui verminho! Eu já cumpri com minha parte do objetivo e não vou ficar pra trás com essa masoquista. Se você quiser ajudá-la, vá sozinha! Aproveite e morra com ela. - Diz Suvarna se aproximando de Madalena como se fosse atacá-la. Tiros são ouvidos pelas duas.

Madalena balança a cabeça negativamente e abaixa sua balaclava cobrindo todo o rosto, “espere aqui”, diz ela com autoridade correndo na direção do ponto em que Alana estava, saindo da presença de Suvarna.

Ela avança e o grupo agora estava mais ao fundo na construção, ela vai se esgueirando pelos escombros e percebe que o número de guardas diminuiu, mas dois deles estão com Alana sob a mira de armas e um homem gigante está lutando com ela. O homem grande e musculoso tem altura e físico superior ao de Alana que por si só já era monstruosa, vestindo uma roupa militar e uma roupa com proteções semelhantes a dos outros soldados, diferenciado apenas no tamanho e na quantidade de placas à prova de balas. O homem veste uma touca escura que esconde parte de sua cabeça até as orelhas e sua barba longa e negra decora seu rosto até o pescoço. Com sinais de que está ferida, com cortes e provavelmente os tiros que havia ouvido antes, o homem a estava torturando, com certeza para que revelasse algo sobre quem havia atacado a base, Alana por outro lado, apesar de machucada, sorria para o homem que lhe atacava cada vez mais forte, e ele também aparentava se divertir.

Se aproveitando da distração e com pouco tempo para reagir, a jovem pensa em criar uma distração para que Alana consiga sair daquela situação e ambas pudessem fugir até o carro. Madalena então grita por Alana, atraindo a atenção dos três rebeldes que estavam no local. Imediatamente Alana avança contra o homem gigante que estava lutando com ela, desferindo um forte soco direto em seu rosto, o homem se desequilibra e cai em cima de alguns galões de metal próximos. Imediatamente, Alana retira de uma bainha em sua perna sua faca tática e lança contra um dos guardas que estavam com ela sob a mira de sua arma, a faca pega de forma certeira no pescoço de um dos rebeldes. O outro aponta novamente a arma para Alana, apavorado com o companheiro engasgando com o próprio sangue no chão dá uma rajada de tiros, todos pegando em seu colete a prova de balas mas ainda sim a fazendo cair.

Madalena sem pensar muito, avança na mesma hora contra o guarda que ainda estava com a arma na mão e antes que pudesse mirar nela, puxa a faca do pescoço do rebelde que ainda agonizava e se debatia sufocado com a faca no chão e pula sobre o outro usando o joelho na direção do seu rosto e assim que ambos tocam o chão Madalena apunhala firme o peito do homem e retira rapidamente a faca fazendo o sangue jorrar sobre ela.

Apesar de trêmula, Madalena está firme e sua adrenalina está alta. Seu coração parece querer pular pra fora de seu peito, mal percebendo que o homem gigante golpeado por Alana acabara de se levantar. Ele começa a gritar palavras que Madalena não entende, mas imediatamente assume uma posição defensiva com a faca em mãos. O homem avança contra ela, mas antes que pudesse chegar perto o suficiente, uma nova explosão ocorre relativamente próximo de onde estavam, fazendo com que todos caiam no chão. Por um instante, Madalena é lançada para longe e antes que pudesse se levantar o homem gigante com o rosto barbudo pingando sangue tenta sufocá-la com as mãos, enquanto ainda estava no chão. Ela se estica e se arrasta para alcançar a faca que não estava tão distante dela, mas antes que pudesse pegá-la Alana avança de forma desengonçada acertando o homem e caindo por cima dele. Os dois começam a lutar no chão, enquanto Madalena se levanta desorientada, Alana finalmente depois de alguns golpes, consegue segurar o homem pelas costas aplicando um mata leão:

- Vamo morena!! - Grita Alana para que Madalena pegasse a faca e finaliza-se o homem. Que se debatia dando cotoveladas e socos tentando afastar Madalena e fazer Alana lhe soltar.

Sem pensar muito, ainda levada pelo susto Madalena pega a faca que estava perto dela e avança sobre o homem que se debatia. Ela desfere uma série de facadas em seu peito e abdômen, espirrando sangue sobre seu rosto e o fazendo jorrar em Alana igualmente. Sob o frenesi perdendo a conta de quantas facadas já havia dado, Madalena sente a grande mão de Alana segurando seu pulso com força considerável, a impedindo de continuar as punhaladas. O rosto coberto de machucados e sangue de Alana sorri para Madalena.

- Curtiu né, bombom? - Alana exibe seu sorriso torto e ensanguentado. Madalena retira a balaclava pingando sangue de seu rosto, suspirando aliviada e estranhamente devolve o sorriso para Alana, mas antes que pudessem falar qualquer coisa, uma nova explosão acontece. Madalena é arremessada mais uma vez para longe perdendo a consciência.

Após ser arremessada, Madalena consegue ver por poucos segundos a figura gigante de Alana se aproximando dela, mas após isso sua visão fica escura perdendo completamente a consciência novamente.

Madalena abre os olhos finalmente, assustada, ela vê o teto do beliche e se senta na cama em um impulso. Ela está novamente dentro da base, Gulnara está sentada próximo da mesa e Suvarna está a acompanhando, juntamente da mulher vestida de barman. Alana está ao seu lado, sentada com uma faca na mão, entalhando a madeira. Seu corpo inteiro doi.

- Vai com calma ai bombom! Na noite passada você virou uma boneca de pano, foi jogada de um canto pro outro. Rentouttaa, hahaha. - Diz Alana, parando de entalhar a madeira se virando para ela, colocando a mão em seu ombro.

- Vejo que acordou senhorita Madalena. Fico feliz que tenha conseguido sobreviver a sua primeira missão. Parabéns. - Se aproxima Gulnara que apesar de falar felicitações, está com uma expressão completamente sem emoção no rosto.

- Aaaah querida!! Fiquei tão preocupada com você!! Você voltou para onde Alana estava e demoram tanto, acabei tendo que voltar para a base sozinha!! - Diz Suvarna com forte tom de preocupação, Alana solta uma risada irônica e Madalena fica em silêncio, não conseguindo conter sua expressão de raiva que é percebida até por Gulnara.

- Pois bem. - Interrompe Gulnara, ignorando as provocações feitas entre o grupo - Concluímos nossa missão por hora e vamos precisar ficar escondidas durante algum tempo até que a poeira abaixe um pouco. Nós três iremos nos encontrar com o contratante enquanto vocês ficam aqui na base para descansar. Aproveitem. - Encerra Gulnara se dirigindo a porta indo embora com as duas mulheres.

As três saem e Alana volta para seu entalhe de madeira sentada ao lado de Madalena, que volta a deitar tocando o corpo se queixando silenciosamente das dores. O silêncio que dura poucos minutos é interrompido por Alana.

- Porque voltou bombom? Você poderia ter ido embora. - Pergunta Alana parando de entalhar a madeira e se voltando a Madalena com um estranho tom de seriedade.

- Bem… a senhora Gulnara me disse pra ficar de olho em você.. ai.. depois que ela quase me vendeu, não quero correr o risco de contrariar ela.. e pra falar a verdade, voltar sozinha com aquela louca gigante no carro parecia mais perigoso do que te procurar. Ha! - Responde Madalena se contorcendo um pouco com dores na costela.

- Hahaha aquela vadia nos deixou pra morrer e disse pra Gulnara que demoramos demais, por isso que foi embora. Você precisava de ver a cara de decepção dela quando eu voltei carregando você, ela quase explodiu de raiva. - Ironiza Alana dando sua risada áspera.

- Como conseguimos voltar? - Pergunta Madalena se sentando novamente na cama com expressão de dúvida.

Alana - Bem… depois que você matou aquele turco, houve uma nova explosão. Você voou uns 7 metros de distância e perdeu a consciência, depois disso eu te carreguei até onde o carro estava. Mas a Auðumbla foi embora com ele. Eu continuei andando por algum tempo, até ver uns idiotas olhando os fogos. Eles ficaram tão entretidos que nem viram eu pegar o carro hahaha.

- Hija de puta… - Reclama Madalena segurando sua costela.

- Haha.. você curtiu né bombom? Naquela hora. Ter se soltado com aqueles caras hehe. Quando você chegou aqui, parecia um cachorrinho abandonado, agora parece que vai morder a jugular de alguém a qualquer momento. - Alana parece estar com os olhos brilhando admirada, Madalena por outro lado, está indiferente sentada ao seu lado.

- Eu.. eu só fiz o que era preciso. Eu preciso sobreviver. - Diz Madalena com os olhos distantes.

- Então, o que foi que você deixou pra trás? - Pergunta Alana parando de entalhar e colocando os cotovelos sobre o joelho, se curvando. - Você tem cara de quem foi arrastada obrigada pra essa coisa toda. De forma engraçada a figura gigante e musculosa de Alana se curva para se aproximar de Madalena, exibindo por todo seu corpo uma série de ataduras. Na região dos seus seios, apenas uma atadura grossa os mantém escondidos e apertados por estar sem camisa.

- É sim… - suspira Madalena - Não é uma história tão longa. Eu vivia em Moscou com meu pai. Me interessei por lutas ainda nova vendo filmes e ele viu que eu tinha talento pra isso. Passei a treinar durante anos com um amigo dele e me envolvi em muitos eventos esportivos e comecei a chamar muita atenção. Um pendeho filho de um mafioso me confundiu com uma puta... - Madalena faz uma pausa pra respirar e beber um pouco de água numa garrafa próxima, ao xingar Alana sorri e dá uma risada, mas continua atenta a história, ainda curvada pra ficar da sua altura. Madalena continua - … fui obrigada a quebrar as costelas dele depois disso. O pai dele não gostou e convidou alguns criminosos pra me caçar… e bem… a Gulnara me ofereceu segurança. - Completa Madalena cabisbaixa. “Sinto falta do meu pai”, complementa desfazendo o olhar de raiva dando lugar a um pouco de tristeza.

Alana embainha sua faca gigante e lhe entrega seu entalhe, uma cabeça de lobo entalhada em madeira, estranhamente bonita. Madalena sorri e agradece o gesto.

- Eu gostei de você bombom. No começo você não tinha cara de quem sobreviveria um dia, mas você me surpreendeu. E isso é uma tarefa difícil hehehe... agora você é uma úlfur de verdade. - Diz Alana apontando para o entalhe de madeira, agora de pé exibindo também uma série de cortes costurados e ataduras pelo corpo nos locais onde o colete havia segurado as rajadas de tiros e as facadas que havia levado.

- Gracias. - Agradece Madalena, pela estranha gentileza de Alana. Aos seus olhos, por mais que Alana não tivesse lhe agradecido por ter voltado e lhe ajudado, ela poderia também tê-la deixado para trás e desconfiava ainda, que havia ficado por um tempo inconsciente e mesmo assim Suvarna não lhe fez mal.

- Alana… quanto tempo eu fiquei dormindo? - Pergunta Madalena.

- Não sei bombom. Acho que por um dia ou mais, sei lá. Por que? - Indaga ela desatando algumas ataduras nos braços.

- Aquela vadia não tentou nada enquanto eu dormia? - Madalena também se levanta e veste uma camisa que estava dobrada próximo de onde estava deitada.

Alana - Ah sim hahaha! Isso foi engraçado! Ela até tentou, mas eu falei com ela que se ela encostasse em você, eu arrancaria a cabeça dela enquanto ela dormia. Ela dormiu com o rabo entre as pernas perto do aposento da Gulnara. Ahahahaha! - Alana solta suas risadas desgrenhadas e roucas, enquanto Madalena ainda à encara com dúvida.

- Você ficou do meu lado esse tempo todo e não dormiu desde que a gente voltou? - Ao falar Madalena arqueia as sobrancelhas e inclina a cabeça com curiosidade e dúvida.

- Só levantei pra mijar. Uma vez... ou duas. Hehe… Eu já usei tanto veneno no meu corpo, que faz anos que não sei o que é dormir hahaha… - Responde Alana com um sorriso. E completa - Você ficou de olho em mim e eu fiquei de olho em você bombom. - Termina lhe piscando o olho.

- Haha! Pena que eu perdi isso enquanto tava apagada. Mas então.. e você Alana? O que deixou pra trás? Como que uma mulher fina e discreta como você veio parar nisso? - Pergunta Madalena sorrindo e se deitando novamente segurando a costela abaixo do braço, disfarçando a dor.

- Fina?? Ah bombom, cê me mata de rir. Nem adianta esperar uma história triste hehe, rolou algo muito engraçado. Mas outra hora te conto. Ah… eu tive que fazer bastante curativos em você e pelo que eu vi, você vai precisar ganhar um pouquinho de carne princesa. - Alana se senta novamente ao lado de Madalena, pegando ao lado da cama outro pedaço de madeira para entalhar, arqueando as sobrancelhas, fazendo uma expressão que Madalena não consegue distinguir se ela fala sério ou se está apenas brincando exibindo sua longa língua bifurcada. Madalena sabe que certamente tiveram que despi-la para fazer os vários curativos em seu corpo.

- Ah!! Carajo!! - Grita Madalena emburrada jogando seu travesseiro em Alana que gargalha com sua reação envergonhada e joga gentilmente o travesseiro de volta para ela. A jovem se deita novamente na cama rindo, sabendo que agora poderia fechar os olhos tranquila sabendo que sua estranha nova parceira lhe deu a segurança que buscava. Finalmente.

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